quarta-feira, 20 de julho de 2011

SOBRE LIBERDADE

            Liberdade universalmente está contida em cada ser que habita consciente ou inconscientemente este planeta. Para o homem consciente diante de Deus e a sociedade apresentam-se conceitos e definições contidas em Leis e em princípios éticos.

            Segundo Aurélio (p. 835) Liberdade se apresenta assim:

Faculdade de cada um se decidir ou agir segundo a própria determinação. Poder de agir, no seio de uma sociedade organizada, segundo sua própria determinação, dentro dos limites impostos por normas definidas: liberdade civil; liberdade de imprensa; liberdade de ensino. Faculdade de praticar tudo quanto não é proibido por lei. Supressão ou ausência de toda a opressão considerada anormal, ilegítima, imoral: Liberdade não é libertinagem; Liberdade de pensamento é um direito fundamental do homem. Caráter ou condição de um ser que não está impedido de expressar, ou que efetivamente expressa, algum aspecto de sua essência ou natureza.

            Liberdade implica em viver para o bem. Implica em ser crítico, justo e imparcial em atos e palavras. Implica aceitar atos legais e idéias mesmo que contrárias ao que pensamos. Implica respeito ao próximo. Esopo em Fábulas cita, sobre Os bens e os males:

Sempre mais fracos, os Bens, sendo perseguidos pelos Males, subiram ao céu onde perguntaram a Zeus como deveriam comportar-se com os homens. Zeus lhes disse que deveriam aproximar-se dos homens não todos juntos, mas um de cada vez. Por isso, os males, por estarem mais perto dos homens, se achegam a eles em grupo, enquanto os bens, descendo do céu, fazem aos poucos. (Esopo, p. 17).

            Assim, facilmente observamos que mais males encontramos do que bens, porém, o julgamento que fazemos em liberdade pessoal nos permite impedir que aqueles prevaleçam sobre o bem. Ainda bem! Imaginemos o caos social que se instalaria em nossas comunidades. Assim ao sabermos distinguir bem e mal podemos entender como agir em atos de liberdade individual e coletiva, deixando de lado a omissão e as fraquezas do “depois vemos o que acontece”. Liberdade implica tomada de decisão em respeito a si e aos que com consigo vivem. Há que existir sempre um melhor caminho na escolha do agir em atitude de Liberdade. O homem é livre para questionar, mas, é responsável por isso e por todas as eventuais conseqüenciais oriundas deste ato. Enquanto homem, livre, cada ato é um recomeço, criado por sua liberdade individual de pensar, escolher, decidir e arcar com as respectivas responsabilidades. Cada um de nós está sozinho, quando nos referimos a Liberdade, seja qual for a sua finalidade. Expressar, ofender, defender, condenar, ajudar, suprimir, enfim cada indivíduo único perante as leis universais, deve conscientemente entender a sua posição no mundo, onde habita, e deve, ainda, buscar auxiliar aos seus semelhantes no entendimento e nas praticas do livre pensar e de realizar o bem. Os frutos serão colhidos em uma convivência mais fraterna, igualitária, de inserção para educação, enquanto indivíduo, para aprender a conviver para o bem. A Liberdade só será encontrada individualmente quando todos os indivíduos, inclusos aqui os dirigentes, responsáveis que são pela inserção dos cidadãos aos meios de educar, entenderem o que é respeito à Liberdade individual e coletiva. Este princípio básico, educar, está a caminhar lado a lado com a condição de praticar atos de liberdade individual e coletiva.

            Por que alguém faz um poço? Por que tem necessidades básicas que necessita atender, individual ou coletivamente. Um home só progride quando entende onde está, quando percebe sua potencialidade, quando aceita que agir em respeito terá como retorno a mesma fatia. Quando um índio caça não o faz por maldade e sim por necessidade. Este indivíduo é um dos seres, quando vivo, mais liberto do planeta. Mesmo sem a cultura da civilização que lhe é imposta consegue dar mostra de sua capacidade; consegue demonstrar que liberdade é na essência respeito ao ambiente em que vive.

            Já que somos o conjunto de nossos atos a soma de todos nos é o elemento macro que norteia a sociedade. As relações individuais somadas às coletivas é que direcionam os atos do poder público que é o retorno das melhorias individuais e coletivas dos grupos que a compõem. A Liberdade é decorrente de uma sociedade justa.

            Liberdade existe quando nos descobrimos como pessoas capazes, sensatas e possíveis de mudança em prol de uma causa melhor e mais justa. Só descobrimos o bem, que podemos ser melhor, quando descobrimos o outro dentro de nós. O importante é não parar de questionar. (Albert Einstein).

            Liberdade é opção. Escolhamos. Sejamos questionadores, tolerantes, porém, não devemos ignorar a vontade de todos em querer ser livre para pensar, expressar e melhorar. Liberdade requer mais que refletir, requer honestidade. Vejamos o que descreve Francisco Torrinha, Libertas: Liberdade; estado ou condição de homem livre. Permissão, liberdade de falar, franqueza; sinceridade. (Dicionário Latino/Português, p. 477).

            Liberdade é condição em que estará um povo próspero e culto, com renda distribuída de forma adequada; conduzidos politicamente por governantes justos opositores dos amigos do descaso, dos roubos e desrespeitos ao erário público. Por outro lado cabe a este povo livre a condição de questionar, de cumprir e exigir que sejam cumpridas as legalidades em prol das comunidades; que seja devolvida ao povo a condição, de contribuir para o bem comum, que lhe é cobrada. 

            Não posso fugir do que me flui à memória. Uma leitura recente de obra intitulada – Chaplin por ele mesmo aviva minha percepção de que há conteúdo extenso, porém rico, que permanece atual, marcante, digno, sincero, provocador e que deve ser inserido neste contexto, afinal liberdade implica escolhas. Escrito em 1940, outubro, o discurso abaixo transcrito, demonstra a perenidade de palavras e pensamentos de um visionário artista. Destaco a seguir a fala final de "O Grande Ditador":

Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício, Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar a todos - se possível - judeus, gentios... negros... brancos. Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades. O Caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém, nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido. A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir, eu digo: "Não desespereis!" A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.

Soldados! Não vos entregareis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentaram a vossa vida... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar nos mesmos passos, que nos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como a um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquinas! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumamos!

Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou de um grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia -, usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos! Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah?! O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannh! Ergue os olhos! - Extraído de Chaplin por ele mesmo, (2004, pp. 155-158).

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