PUBLICADO NO XII CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO - EDUCERE - PUC-PR 26 A 29 DE OUTUBRO DE 2015 - ISSN - 2176-1396 EM MESA REDONDA
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: LEGISLAÇÃO E HISTÓRIA
Grupo de Trabalho – Educação,
Complexidade e Transdisciplinaridade
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O documento em
questão é resultado de uma pesquisa bibliográfica e tem como objetivo a coleta
de dados sobre a temática Educação Profissional, Legislação e História, no
sentido de oferecer subsídios teóricos para discussão em Mesa Redonda. Avançamos ao longo desta peça teórica numa
jornada de resgate de parte da história da educação profissional, em especial
no Brasil, pinçando ao longo da pesquisa os dados pertinentes aos diversos
diplomas legais, que ao longo do tempo e de acordo com a evolução
socioeconômica foram amparando e orientando as instituições responsáveis pela
oferta destes cursos, cujo objetivo principal é o preparo para o trabalho. Ao
método aplicamos uma sistemática de coleta de dados bibliográficos, leitura,
seleção dos trechos a serem utilizadas, coleta dos textos, aplicação e análise
ao final do trabalho. Os autores que amparam o trabalho são: Barato (2002),
Behrens (2010), Camargo (2002), Carneiro (2012), Gilio (2000), Moraes (2009),
Morin (2002), Santos (2010), Sapelli (2008), Saviani (2008 e 2005), Strauss e
Corbin (2008) e Tapscott (2011). Para analisarmos o resultado do trabalho
elaboramos um quadro reunindo considerações de três autores em que efetuam
sugestões para melhorias na aplicação das políticas públicas e das ações de
caráter didático pedagógico. Diante das considerações destes autores conclui-se
que a base em que deve se desenvolver os trabalhos para a educação profissional
estão longe do estágio ideal e que a aplicação das políticas públicas
emaranha-se com as muitas dificuldades financeiras em que se encontra a Nação
além da constante dificuldade de formação e aperfeiçoamento dos professores,
relacionadas à adaptação ao contexto em que atuam e ao mundo tecnológico em que
vivemos ambas aliadas à falta de acompanhamento e fiscalização dos órgãos
competentes.
Palavras-chave: Educação
profissional. Legislação. História.
Introdução
Este documento tem a intenção de apresentar os elementos que
nortearam a evolução histórica da Educação Profissional no Brasil, aqui
entendida como parte da educação certificada pelos diplomas legais. A Educação
é dever de todos e deve estar “inspirada nos princípios de liberdade e nos
ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho” [2].
E a história começa para o futuro. Um ponto de partida no
passado, amparado por ideias, discussões e quebra de paradigmas[3] no
sentido de rompimento para libertar o individuo intelectual e socialmente dos
jugos dos mais fortes e dos poderes constituídos de sociedades que se limitavam
a explorar a força e o intelecto em causa da concentração de receitas e da
manutenção do status quo.
Difícil imaginar onde poderíamos chegar a partir do início
do Século XX. Um mundo em “ebulição” que de 1901 a 2000 teve um crescimento
extraordinário saltando 1,6 bilhão para 6,1 bilhão de pessoas sendo que de 1987
a 1997 ocorreu o maior aumento, 1 bilhão de pessoas.
Neste período também ocorreram guerras e revoluções,
movimentos sociais em prol dos mais diversos interesses da população e/ou dos
Estados constituídos. Entre 1940 e 1980 é que houve o maior crescimento no
Brasil, baixa mortalidade e elevada natalidade, a partir de 1990 menor
crescimento e maior envelhecimento da população.
No Século XX diante da necessidade de suprir necessidades
para a grande massa populacional governos e instituições avançaram no campo da
pesquisa e uma verdadeira avalanche de soluções tecnológicas foi desenvolvida
e/ou aprimorada e colocadas em uso em prol da melhoria da qualidade de vida e
para estimular o desenvolvimento nos mais diversos segmentos do mundo
capitalista.
E toda esta transformação atingiu os mais diversos
segmentos e impulsionaram melhores condições de saúde e saneamento, ganhos de
produtividade e renda, mas também acelerou as diferenças entre as diversas
camadas sociais.
Na década de 1980 o que era um mero terminal para análise
de dados ou para cálculos diversos grande e pesado, em um curto espaço de
tempo, aprimorado, foi parar nas mãos de milhares de pessoas ao redor do mundo.
O computador projetado e aperfeiçoado ampliou a velocidade das transformações
ao redor do mundo.
E chegou... Chegou a Era da Tecnologia e mudou as
características do mundo dos negócios, da medicina, da pesquisa de um modo
geral e aportou no mundo da educação em toda sua ampla atividade.
Desta forma e diante da nossa exposição inicial é nossa
ideia trazer a este contexto, de forma concisa e cronológica um pouco da
evolução da Educação Profissional no Brasil, para tanto apoiaremos o conteúdo
por meio de uma pesquisa bibliográfica e fugindo a regra não discutiremos as
ideias dos autores selecionados, mas sim, alargaremos e estenderemos as
citações no sentido de apresentar conteúdo teórico suficiente de amparo a
outros dois artigos que serão discutidos em Mesa Redonda.
A metodologia e o método de coleta de dados se apoia no
que Strauss e Corbin (2008, p.17) consideram ser “[...] uma forma de pensar
sobre a realidade social e de estudá-la. [...] um conjunto de procedimentos e
técnicas para coletar e analisar dados. [...] os processos analíticos por meio dos
quais os dados são divididos, conceitualizados e integrados para formar a
teoria”. Ao método aplicamos uma sistemática de coleta de dados bibliográficos,
leitura, seleção dos trechos a serem utilizadas, coleta dos textos, aplicação e
análise ao final do trabalho.
Desenvolvimento
Entre os séculos 18 e 19 com os cursos de Taquigrafia na
Europa e nos Estados Unidos surgiram os primeiros cursos de Educação
Profissional praticados na modalidade de estudo a distância.
Ao longo de décadas a Educação Profissional evoluiu e
acompanhou o desenvolvimento de novas tecnologias, como rádio e televisão e
utiliza, ainda, estas mídias para oferecer cursos diversos para atender as
necessidades daqueles que desejam aprimoramento e desenvolvimento para a prática
profissional. Na esteira da evolução tecnológica esta modalidade educacional é,
hoje, também, promovida e realizada por meio de plataformas virtuais online.
A Legislação e a história
A Educação Profissional de acordo com o conteúdo do Art.
39 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) tem a seguinte
redação dada pela Lei 11.741, de 2008: “A educação profissional e tecnológica,
no cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes
níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da
tecnologia”. O mesmo artigo em seu inciso 1° esclarece que os cursos poderão
ser organizados por eixos tecnológicos com diferentes itinerários, o 2° inciso
expressa que esta modalidade de educação contemplará os seguintes cursos de
acordo com o texto da Lei 11.741/08:
a) De
formação inicial e continuada ou qualificação profissional (acrescentado pela
Lei 11.741/08).
b) De
educação profissional técnica de nível médio (incluído pela mesma Lei).
c) De
educação profissional de graduação e pós-graduação (incluído pela mesma Lei),
sendo que estes deverão ser organizados de acordo com as diretrizes
curriculares nacionais.
Em Carneiro (2012,
p, 318-319) encontramos excelente reflexão pertinente à atenção dada à educação
profissional no sentido que:
A LDB dedica uma atenção especial à educação
profissional e tecnológica. O relevo que o assunto merece decorre de uma
profunda mudança por que passa o chamado mundo do trabalho. Mais do que nunca,
este mundo vai-se transformando no mundo do conhecimento, do saber vertido em
operações produtivas. A premência por uma formação profissional comprometida
com uma cidadania ativa decorre dos seguintes fatores: a) [...] das políticas
de desenvolvimento econômico e tecnológico do país, das políticas sociais voltadas
para o trabalho produtivo e para a geração de renda e de estratégias fecundadoras
de parcerias e de integração. B) A legislação da educação básica e dos
institutos normativos decorrentes, ao contribuir para a falta de foco na
educação do cidadão produtivo, concorreu sempre para a desarticulação entre os
vários sistemas de ensino profissionalizante, gerando um subaproeveitamento dos
recursos existentes. C) A educação
profissional no Brasil possui historicamente, uma estrutura inflexível e, em
decorrência, sempre teve dificuldade de atender, com agilidade, a crescente
demanda por níveis mais elevados de qualificação. D) O modelo tradicional de
oferta de cursos profissionalizantes contribuía para aprofundar as
desigualdades sociais à medida que se mostrava impermeável à diversidade
socioeconômica e cultural do país. E) A PEA[4]
brasileira é constituída de 93 milhões de pessoas, com média de 7 anos de
escolaridade, e oriundas de escolas de baixa qualidade. Nos países da OCDE[5], a média
de escolaridade é praticamente o dobro da apresentada pela população de
trabalhadores brasileiros. F) Por fim, os educadores brasileiros e a própria
academia dificultaram sempre o diálogo entre o mundo empresarial e a escola.
Com isto inviabiliza-se o currículo focado em competências, como se o trabalho
produtivo não possuísse uma natureza social.
E fatores diversos conduzem os responsáveis por acompanhar
e praticar melhorias em prol de melhores condições àqueles que irão buscar se
inserir na sociedade do conhecimento e na enorme ciranda do mundo capitalista, às
praticas das regulações e da instituição dos diplomas legais. Sendo assim
organizamos e apresentamos no quadro 1 uma relação cronológica para facilitar o
entendimento que o assunto requer, bem como para salientar a importância para a
sociedade como um todo.
Quadro 1. Organização dos
principais eventos legais da Educação Profissional.
Ano
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Evento e/ou finalidade
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1909
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Surgiram as Escolas de Aprendizes e Artífices. Decreto n°
7.566, de 23 de setembro de 1909.
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1931
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Decreto n° 20.158, de 30/6/1931. Reforma o ensino comercial
que, entre outras providências, organizou essa modalidade nos níveis médio e
superior e regulamentou a profissão de contador.
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1931
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Criação do Conselho Nacional de Educação. Decreto n°
10.850, de 11/4/1931. Conselho destinado a assessorar o Ministro na
administração e direção da educação nacional.
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1942 a 1946
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Implantação dos ensinos industrial, comercial e agrícola.
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1959
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Rede Federal de Ensino Técnico e as Escolas Técnicas
Federais (por meio do Decreto 47.038/59).
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1961
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Lei 4024/61, Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira. O ensino profissional readquire sua natureza educativa.
Equivalência entre cursos técnicos e secundários para fins de ingresso em
curso superior.
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1997
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Decreto 2.208/97. No sentido de integração da educação
geral/educação profissional e tecnológica.
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2004
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Decreto 5.154/04. Normatiza e estabelece que a educação
profissional deverá ser organizada por áreas profissionais, em
correspondência a cada estrutura sócio ocupacional e à base tecnológica
requerida e, ainda, mediante processos articulados, envolvendo trabalho,
estruturas de emprego, e fundamentos e tendência científica e tecnológica.
Institui doze eixos tecnológicos.
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2005
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Decreto 5.478 estabelece o Proeja – Programa de Integração
de Educação Profissional ao Ensino Médio. Dispõe sobre a formação inicial e
continuada de trabalhadores bem como sobre a educação profissional técnica de
nível médio.
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2005
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Surge o Projovem – Programa Nacional de Inclusão de Jovens.
Neste mesmo tempo a Lei Federal 11.129/05 instituiu o Conselho Nacional da
Juventude e a Secretaria Nacional da Juventude.
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2008
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Lei 11.741 de 2008: altera dispositivos da Lei 9.394 de 20
de dezembro de 1996 com a intenção de redimensionar, institucionalizar e integrar
as ações da educação profissional técnica de nível médio, da educação de
jovens e adultos e da educação profissional e tecnológica.
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2008
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Lei 11.892/08 institui a Rede Federal de Educação
Profissional.
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Fonte: adaptado e organizado
pelo autor a partir de Carneiro (2012) e Santos (2010).
E esta sequencia de atos legais nos conduz a buscar
elementos discutidos por alguns autores que apontam a cooperação entre governo,
empresários e sociedade em geral como fundamental para uma sociedade mais justa
e com boa distribuição de renda. Gilio (2000, p. 22) ressalta que “se por um
lado a construção da competitividade é imprescindível [...] por outro, ela
supera os limites do setor produtivo e se coloca como problema nacional: a
formação dos trabalhadores é um problema estrutural, de responsabilidade
conjunta do governo e iniciativa privada [...]”.
Saviani (2008, p. 155) discorre sobre o avanço em relação
ao Decreto n. 5.154, de 2004, por meio do qual “retoma-se a tendência da
formação integrada que caminha na direção da superação da dualidade entre
educação geral e formação profissional, revertendo-se o retrocesso representado
pelo decreto do Governo FHC[6]”. O Decreto n. 5.154 foi sancionado durante o
Governo de Luis Inácio Lula da Silva. Observamos então uma clara situação de
conflito de interesses oriundas dos mais diversos grupos econômicos e do
governo. Saviani (2008) destaca também que “essa mudança precisaria ser
acompanhada por uma reorientação prática da política nacional que assegurasse o
compromisso do Estado com o financiamento da educação publica, fortalecendo os
centros federais de educação [...]” (idem p. 155).
Sapelli (2008, p. 54) comenta sobre a temática que
“podemos perceber que nesse novo momento do capitalismo não há liberdade a não
ser para o capital”, referindo-se a evolução acelerada e ao descompasso
existente por parte das políticas públicas. A autora discorre, também, sobre a
evolução da educação profissional no Paraná, destacando que pertinente ao
século XIX poucos relatos foram encontrados, porém, o que foi identificada
expressa “o mesmo caráter classista que encontramos na história da educação
brasileira” [...] “O ensino profissional do Paraná também esteve, no início de
sua história, marcado pelo assistencialismo e disciplinamento dos pobres.”
(2008, p. 62), a autora destaca também a importância da criação, em 07 de julho
de 1947 do SENAC, no Paraná.
Dos autores elencados até agora, todos registraram a
preocupação com a formação específica de professores, fator essencial para o
sucesso da empreitada social.
Dos conteúdos analisados fica evidente que o sucesso da
educação profissional, seja sob a gestão do Estado, seja sob a gestão da
iniciativa privada, ou mesmo numa ação conjunta, não será bem sucedida se não
houver uma política pública voltada ao estímulo da indústria, do
desenvolvimento dos serviços da evolução da agricultura da perfeita harmonia
entre educar para a profissão, produzir, exportar, importar, gerando empregos e
poder compra. Fica claro que discurso e diplomas não satisfazem.
Camargo (2002) narra em sua obra o contexto de
acompanhamento de projetos inovadores, experiências vividas e relatadas e
catalogadas em todo o território brasileiro.
A autora esclarece que são ações no âmbito dos Planos
Estaduais de Qualificação (PEQs), “que articulam as ofertas e as demandas
locais por educação profissional, contemplando projetos e ações cuja execução
deverá beneficiar anualmente cerca de 20% da população economicamente ativa.”
(2002, p. 2). Este documento de Camargo (2002) visa oferecer “subsídios e
orientações técnicas para que as informações e os documentos que estão sendo
produzidos [...] possam ser organizados e manejados de modo a constituir
verdadeiramente um apoio informativo para a ação dos colegiados [...]” (idem p.
4).
A desigualdade estruturante do sistema educacional
adicionada de complexos fatores regionais de um país continental, talvez seja a
motivação para ampliar a discussão a respeito da temática aqui discutida, de
forma concisa, elencando dados de aspectos legais e construção histórica, sendo
esta construída pelos atores envolvidos: governo, sociedade e comunidade
econômica, aqui entendida como geradora do ciclo capitalista contemporâneo,
gerador de riquezas e ao mesmo tempo motivador da alta concentração de recursos
financeiros numa pequena parcela da população.
Uma excelente contribuição nos é apresentada por Saviani
(2005, p. 20-21), esclarecendo sobre o período de recuperação econômica pós
1930:
[...] e se estende até a crise da década de 1970, o
processo produtivo e a organização do trabalho estão ainda sob a égide do
taylorismo-fordismo. A economia de escala e a produção em série para o consumo
de massa implicam o uso de um grande contingente de trabalhadores, o que
facilitava tanto a organização sindical como a regulamentação estatal. Assim, o
chamado “Estado de Bem-estar” traduziu um determinado grau de compromisso entre
Estado, empresas e sindicatos de trabalhadores que, numa fase de crescimento da
economia, assegurou um relativo equilíbrio social e impulsionou
significativamente o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas, cujo
resultado se materializou num avanço tecnológico de tal proporção que deu
origem a uma nova “revolução industrial”: a revolução microeletrônica, também
denominada “revolução da informática” ou “revolução da automação”.
Capitalismo, trabalho e seus modelos de produção, governo
e sociedade, aparentemente pilares de sustentação de uma sociedade equilibrada
e justa. Porém com o advento da “revolução da informática” uma suposta evolução
da educação foi colocada sob “xeque mate”, para Saviani (2005) a educação que
tenderia a evoluir sobre a base do desenvolvimento tecnológico é colocada,
inversamente sob a determinação das condições impostas pelo novo capitalismo.
Temos, assim, o momento em que se institui a concepção produtivista de educação
que dominou a segunda metade do século XX.
E estamos centrados nesta vertente que propõe o
desenvolvimento, aprimoramento e aplicação das normas regulatórias. Estimular o
desenvolvimento educacional e profissional é dever do Estado e Sociedade no
intuito de torna-los sólidos e competitivos.
Nos últimos anos os sistemas do comércio e indústria
estiveram envolvidos em aprimorar, esclarecer, e desenvolver pessoas no sentido
de facilitar a inclusão destas no mercado de trabalho e/ou no sentido de
estimular o desenvolvimento de novos negócios.
Segundo Saviani (2005, p. 23) estes ciclos de retomada de
discussões sobre aprimoramento para a educação profissional parecem se fundir
aos períodos de crises econômicas. Para ele “[...] parece haver claramente um
processo intencional de administração de crises”. Segue na mesma linha
afirmando que “[...] parece tratar-se de uma relevante transformação do
capitalismo que afetou decisivamente o mundo do trabalho e a educação na
segunda metade do século XX, mantendo-se presente no princípio do século XXI” [7].
Realizadas estas
considerações devemos nos ater e destacar a complexidade do mundo contemporâneo
em que vivemos. Um emaranhado mundo novo repleto de informações, incessante,
onde a eletrônica e a rede mundial, a internet, suportam uma enorme carga de
trocas de conteúdos e protocolos de controle de operações as mais diversas.
A educação profissional, aqui discutida, se encontra com
esta realidade e hoje é possível aprimoramento a milhares de quilômetros da
instituição de ensino. Hoje há no Brasil mais de 5.300 polos de apoio aos
alunos e novas Diretrizes estão por vir na intenção de melhorar as condições do
ensino a distância, que requer a utilização de plataforma online e de atividades
práticas nos polos de apoio[8].
O complexo e dinâmico mundo corporativo tem buscado suas próprias
soluções ao incorporar Universidades Corporativas no sentido de aprimorar e
desenvolver o público que em suas bases desenvolvem trabalhos diários.
Esta noção surgiu da observação de suprir necessidades
específicas de cada segmento.
“Hoje, os mercados de trabalho são globais e, no contexto
de modelos de negócios em rede, os trabalhadores do conhecimento enfrentam
competição em tempo real. Os trabalhadores e gestores devem aprender,
adaptar-se e desempenhar como nunca antes”. Tapscott (2011, p. 141). O mesmo
autor considera que “o verdadeiro aprendizado começa quando os estudantes
deixam a sala de aula e começam a discutir e a internalizar o que acabaram de
ouvir”. (idem).
Criar uma cultura de colaboração envolvendo todos os
segmentos da sociedade, eis uma proposta que nos parecer favorecer para o
futuro da sociedade.
Considerações Finais
Diante do conteúdo que apresentamos e que pretende servir
de apoio aos conteúdos a serem apresentados durante a realização de uma Mesa
Redonda, cabe a partir de agora observar as considerações dos autores
selecionados no que diz respeito aos pós e aos contras. Para tal e diante do
que apresentamos elegemos três autores a partir dos quais iremos elaborar um
Quadro apontando o que cada um considera importante no que tange ao
desenvolvimento da educação profissional.
Quadro 2. Destaque e
proposição de cada autor para a educação profissional.
Carneiro (2012, p. 335)
|
Barato (2002, p. 137-138)
|
Santos (2010, p. 116-117)
|
“[...] imperativo trabalhar um conceito diferenciado e
dinâmico de sistema de educação profissional sustentado nos seguintes
delineamentos estruturantes [...]”.
|
“[...] vou anunciar de modo direto, sintético e com certa
clareza, meus propósitos e sugestões. A meu ver é preciso repensar a didática
quando se quer fazer educação profissional, considerando [...]”.
|
Santos propõe a utilização das dez novas competências para
ensinar que o Mestre Perrenoud postulou. Ele esclarece que nesse trabalho
Perrenoud propõe as competências a seguir.
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Conhecimento dos traços marcantes do setor produtivo.
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A organização do ensino fundada na escola acadêmica é
incapaz de gerar uma didática adequada à elaboração do saber técnico.
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Centrar-se nas competências a serem desenvolvidas nos
alunos e nas mais fecundas situações de aprendizagem.
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Levantamento das variáveis e dos indicadores da estrutura
econômica, científico-tecnológica, organizacional, ocupacional e
sócio-educativo-cultural do país, região e da sociedade local.
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Eleger consciente ou inconscientemente, a teoria como
senhora da prática é uma solução que desvaloriza o saber técnico.
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Diferenciar seu ensino, praticar uma avaliação formativa,
para lutar ativamente contra a reprovação.
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Delimitação das áreas profissionais, a partir do
entendimento dos seus processos e de suas funções.
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O uso de pares antiéticos como teoria/prática ou
conhecimento/habilidade para classificar conteúdos de ensino está fundado em
epistemologia que desconsideram a dinâmica das atividades humanas.
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Desenvolver uma pedagogia ativa e cooperativa fundamentada em
projetos.
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Inventário das competências profissionais identificadas
como relevantes para o mercado de trabalho.
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Mais educação geral é direito e necessidade do
trabalhador-cidadão. É preciso, porém, depurar o discurso, para que a defesa
da educação geral não signifique perder de vista a especificidade da educação
profissional.
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Entregar-se a uma ética explicita da relação pedagógica e
ater-se a ela.
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Definição dos conteúdo a serem casados com as competências
profissionais.
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Técnicas e habilidades exigem tratamento metodológico que
garanta bons resultados do aprender a trabalhar. Essa circunstância coloca o
desafio de construir uma pedagogia voltada para o saber técnico.
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Continuar a sua formação, a ler, a participar das manifestações
e reflexões pedagógicas.
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Foco continuamente na educação geral e educação
profissional, de tal sorte que se assegure ao aluno trabalhador uma base
ampla de formação e níveis crescentes de qualificação.
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Os modos hegemônicos
de ver o conhecimento em educação estão marcados por ideias transmissivistas
e reificadoras do saber. Essa tendência consagra uma educação palavrista e
bancária. É preciso superar tal visão com uma pedagogia voltada para a
construção compartilhada do saber.
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Questionar-se, refletindo sobre a sua prática,
individualmente ou em grupo.
|
Balizamento dos perfis profissionais através do contorno
das competências profissionais.
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Insistir na teoria pode ser uma forma ideológica de
“demonstrar” a inferioridade do trabalho técnico. Insistir na prática pode
ser uma forma de instrumentar o trabalhador em sua luta por condições mais
dignas de trabalho. Contraditoriamente, certo criticismo esquerdizante, que
insiste na transmissão de conteúdos teóricos, é uma forma sutil de esvaziar a
técnica de significado, justificando a divisão entre trabalho manual e
trabalho intelectual.
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Participar da formação inicial dos futuros professores.
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Operacionalidade dos processos de certificação total ou
parcial, mediante instituições competentes, flexibilizando o processo
formativo por via de entradas e saídas intermediárias.
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Trabalhar em equipe, relatar o que faz, cooperar com os
colegas.
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Construção de alianças e parcerias dentro de um processo
contínuo de complementaridade e de multiplicação de resultados.
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Inserir-se em um projeto de uma instituição ou uma rede.
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Sintonia com as tendências de apropriação tecnológica do
setor produtivo e com o nível de percepção profissional dos alunos egressos,
como forma de garantir a permanente atualização do currículo.
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Engajar-se nos procedimentos de inovação individuais e
coletivos.
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Busca da ruptura do dualismo estrutural entre Ensino Médio
e educação profissional, através de políticas pautadas pela inclusão,
qualidade social e materialidade da proposta de educação integrada contida no
Decreto 5.154/04.
|
Fonte: o autor. Organizado e contextualizado a partir dos
conteúdos dos autores selecionados.
Diante do que reunimos no quadro 2, temos como resultado
do trabalho, considerações de três autores em que efetuam sugestões para
melhorias na aplicação das políticas públicas e das ações de caráter didático
pedagógico. Diante das considerações destes autores conclui-se que a base em
que deve se desenvolver os trabalhos para a educação profissional estão longe
do estágio ideal e que a aplicação das políticas públicas emaranha-se com as
muitas dificuldades financeiras em que se encontra a Nação, ao longo dos anos,
além da constante dificuldade de formação e aperfeiçoamento dos professores,
relacionadas à adaptação ao contexto em que atuam e ao mundo tecnológico em que
vivemos ambas aliadas à falta de acompanhamento e fiscalização dos órgãos
competentes.
Referências
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educação profissional. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2002.
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pedagógica. Petropólis, RJ, 4. ed. Vozes, 2010.
BRASIL. Lei 11.741, de 16 de julho de 2008. Brasília.
Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11741.htm> Acesso em:
10ago2015.
BRASIL. Pronatec. MEC. Catalogo Nacional de Cursos
Técnicos. Disponível em:< http://pronatec.mec.gov.br/cnct/>
acesso em: 10ago2015.
CAMARGO, Célia Reis. Experiências inovadoras de educação
profissional: memória em construção de experiências inovadoras na
qualificação do trabalhador (1996-1999). São Paulo, Editora UNESP: Brasília,
DF: Flacso, 2002.
CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: leitura
crítico-compreensiva, artigo a artigo. Petropólis, RJ: Vozes, 2012.
GILIO, Ismael. Trabalho e Educação: formação
profissional e mercado de trabalho. São Paulo: Nobel, 2000.
MORAES, Maria Cândida. Paradigma educacional emergente. 9. ed.
Campinas, SP: Papirus, 2009.
MORIN, Edgar. Os sete saberes para a educação do futuro. Lisboa,
Portugal: ed. Neograf, 2002.
SANTOS, Jurandir dos. Educação profissional & práticas de
avaliação. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2010.
SAPELLI, Marlene Lucia Siebert.
Ensino profissional no Paraná: aspectos
históricos, legais e pedagógicos. GUarapuva: Unicentro, 2008.
SAVIANI, Dermeval. Da nova LDB ao FUNDEB: por uma outra política educacional. 2 ed. rev.
e ampl. Campinas, SP: Autores Associados, 2008.
SAVIANI, Dermeval.
Transformações do capitalismo, do mundo do trabalho e da Educação. In:
LOMBARDI, José Claudinei, SAVIANI, Dermeval, SANFELICE, José Luís (orgs). Captalismo, trabalho e educação. 3 ed.
Campinas: Autores Associados, 2005.
STRAUSS, Anselm; CORBIN,
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e procedimentos para o desenvolvimento de teoria fundamentada. Porto Alegre: Artmed, 2008.
TAPSCOTT, Don. Macrowikinomics: reiniciando os
negócios e o mundo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
VINES, Juliana. Tudo
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Paulo, Educação a distância.
30jul2015. Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2015/07/1661681-tudo-pode-ser-ensinado-pela-tela-mas-treinamento-depende-de-supervisao.shtml> Acesso em
10ago2015.
[1] Mestre
em Educação, Especialista em: Gestão de Custos e Formação Estratégica de Preços
e, Formação Pedagógica do Professor Universitário, Professor Universitário,
Diretor Comercial e Membro de Conselho de Administração.
[2]
Art. 2° da Lei 9.394, de 20/12/96.
[3] Segundo
Morin: Enfermidade cognitiva pela ausência do conhecimento e dos problemas-chave
do mundo. Para Moraes: Pensamento reducionista em prol da evolução de métodos
racionais para evolução da humanidade. Behrens anotou: Influência cartesiana e
newtoniana que levou a uma mentalidade reducionista.
[4]
População Economicamente Ativa.
[5]
Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico.
[6]
Ex-Presidente da República Fernando Henrique Cardoso.
[7]
Para confrontar ou entender estas argumentações ler Stiglitz, Joseph E. A
globalização e seus malefícios. São Paulo: Futura, 2002.
[8]
Conforme dados divulgado no periódico digital Folha Online na edição de 10/08/2015.