segunda-feira, 18 de julho de 2011

DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA

         Quero revelar a vocês, neste exato e feliz momento o meu estado de despertar da consciência: coloquem para tocar a música cantada por Rod Stewart e Amy Belle intitulada I Dont Want To Talk About It, ou outra que considerem adequada, e tentem perceber quanto a sonoridade de uma bela canção pode dizer a nós; quanto podemos sentir e viver em cada momento de nossas vidas, tão curta e tão distante de Deus a quem buscamos incessantemente.

            A minha felicidade de poder ter chegado aos 57 anos de vida eu quero dividir com vocês ao tratar deste tão vasto e curioso tema, o Despertar da Consciência; tão complexo e vibrante e paradigmático.

            Mas o que é despertar? Para muitos pode ser o raiar do sol; o despertar de uma gostosa noite de sono; para outros a descoberta de algo que parecia perdido; para muitos outros a conquista de qualquer bem ou sonho alcançado. Mas para nós humanos o que é isto?

            Na medida em que progredimos recebemos uma grande carga de informações e que supostamente deverão nos conduzir na nossa nova caminhada, nos nossos novos desafios. É muita pretensão dizer ou presumir que podemos despertar a consciência de quem quer que seja. Esta só será percebida por cada um, individualmente e colocada em trabalho à comunidade quando assim o permitirmos.

            Mas vejamos o que é Consciência. Recentemente estava a desfrutar de uma leitura da obra do filósofo Joseph Campbell, que discorre sobre diversos temas em uma entrevista concedida a Bill Moyers e lá tive a felicidade de deparar-me com o trecho que passo a grafar abaixo quando este pergunta a Campbell, O que você entende por consciência? Vejamos o que Campbell respondeu:

É próprio da tradição cartesiana pensar na consciência como algo inerente à cabeça, como se a cabeça fosse o órgão gerador de consciência. Não é. A cabeça é um órgão que orienta a consciência numa certa direção ou em função de determinados propósitos. Mas existe uma consciência aqui, no corpo. O mundo inteiro, vivo, é modelado pela consciência. Acredito que a consciência e energia são a mesma coisa, de algum modo. Onde você vê, de fato, energia de vida, lá está a consciência. O mundo vegetal, com certeza, é consciente. E, ao viver no campo, como aconteceu comigo quando criança, você pode ver toda uma série de consciências diferentes se relacionando consigo mesmas. Existe uma consciência vegetal, assim como existe uma consciência animal, e nós partilhamos de ambas. Quando você ingere certas comidas, a bílis sabe se existe algo ai algo que exija a participação dela. Esse processo todo é consciência. Tentar interpretá-lo em termos simplesmente mecânicos não funciona. (CAMPBELL, 1988, p.15).

            Na continuidade da entrevista Bill Moyers indaga sobre, Como transformamos nossa consciência? Ao que o nosso filósofo responde:



Depende do que você esteja disposto a pensar a esse respeito. E é para isso que serve a meditação. Tudo o que diz respeito à vida é meditação, em grande parte uma meditação não intencional. Muitas pessoas gastam quase todo o seu tempo meditando de onde vem e para onde vai o seu dinheiro. Se você tem uma família para cuidar, preocupa-se com ela. Essas são todas preocupações muito importantes, mas, na maior parte dos casos, têm a ver apenas com as condições físicas. Como você pode transmitir uma consciência espiritual às crianças se você não a tem para você mesmo? Como chegar a isso? Os mitos servem para nos conduzir a um tipo de consciência que é espiritual. Apenas como exemplo: eu caminho pela Rua 51 e pela Quinta Avenida, e entro na catedral de St. Patrick. Deixei para trás uma cidade muita agitada, uma das cidades economicamente mais privilegiadas do planeta. Uma vez no interior da catedral, tudo ao meu redor fala dos mistérios espirituais. O mistério da cruz – o que vem a ser afinal? Vejo os vitrais, responsáveis por uma forte atmosfera interior. Minha consciência foi levada a outro nível, a um só tempo, e eu me encontro num patamar diferente. Depois saio e eis-me outra vez de volta ao nível da rua. (CAMPBELL, 1988, p. 15).



            O Despertar da consciência é um momento qualquer na vida de qualquer um de nós. Pode ser uma ação, uma agressão, um abraço, uma palavra de alento, um suspiro ao vento, um olhar, um fazer qualquer para quem quer que seja. Poético isto que foi escrito? Não! Pura reflexão de um momento consciente. Um momento voltado para discorrê-lo, para compartilhá-lo. Consciência pode ser um momento comum ou difuso, confuso? Não, cabe a cada um situar-se no seu tempo, no seu momento. Muitos momentos relacionados ao tempo em que nos situamos passam e poucos percebem o que acontece a sua volta. Louvemos a palavra escrita que nos permite recuperar estes breves e perenes momentos. Um brasileiro ilustre nos provoca em tempo remoto para a tomada de consciência. Quem é ele? Dentre tantos, brilhantes e instigadores, temos Monteiro Lobato que nos brinda com textos críticos, provocadores e que tentam libertar-nos para a tomada de consciência.  Os problemas que hoje vivenciamos já eram, à época, alvo de muitas críticas e corroíam a população carente que habita este país. Lobato destaca que graças à pressão da evidência, cada qual já procura ver com os próprios olhos, convencido de que entre as flores da retórica e os frutos da realidade ocorre séria discrepância. O mesmo Lobato destaca ainda:

Riqueza. Tê-la no seio da terra, no azoto do ar, nas essências florestais, na literatura cor-de-rosa e não tê-la sonante no bolso é ser nabado à moda do chinês em transe megalomaníaco de sonho de ópio. A noção econômica de riqueza, desde Adam Smith, é um pouquinho diversa – a mesma diversidade que vai da palavra libra esterlina à rodelinha amarela chamada libra esterlina. (LOBATO, 2010, p. 23).

            Lobato viveu à época em que dezessete milhões ou mais de brasileiros habitavam estas terras. Quando o descaso ainda era música predominante. Era homem consciente ao momento que vivia. Consciente que era e desperto para as agruras da vida de seus compatriotas tratou de utilizar as ferramentas com as quais tinha domínio e habilidade. Escrever estava entre estas e a utilizou conscientemente para denunciar os desmandos das autoridades que àquela época acreditavam ser esta a melhor maneira de conduzir o povo. Povo que os conduziu ao Poder.

            Lobato, conscientemente, foi precursor na arte da denúncia pública e procurou defender aqueles brasileiros vitimados pelas doenças oriundas da falta de sanidade pública. Naquele momento o “amarelão” vitimava muitos brasileiros. Não nos cabe neste momento citações de caráter cientifico sobre o assunto, mas apenas a ação de tal homem em prol dos fracos e oprimidos. A consciência é uma condição de percepção, do momento em que nos percebemos como cidadãos e prontos para denunciar, auxiliar, esclarecer. Foi assim com Lobato denunciando as mazelas das autoridades que olhavam apenas para o próprio bolso e interesses. Denunciou ainda as precárias condições habitacionais. Alardou as dificuldades enfrentadas por criaturas atoladas nas mais lúgubres situações de miséria. Denunciou, juntamente com Carlos Chagas, as misérias enfrentadas diariamente por crianças e adultos. Vivendo seu tempo Lobato escreve e provoca:

Programa patriótico, e mais que patriótico, humano, só há um: sanear o Brasil.

Guerra com a Alemanha só há uma: sanear o Brasil.

Reforma eleitoral só há uma: sanear o Brasil.

Fomento da produção só há um: sanear o Brasil.

Campanha cívica só há uma: sanear o Brasil.

E saneá-lo antes que o estrangeiro venha fazê-lo por conta e proveito próprios. (LOBATO, 2010, p. 38).

            Lobato deixou como legado a consciência de viver o seu tempo. Intelectual independente e criativo permanece entre nós como exemplo da chamada para realidade consciente de cada um.
 
            Em 1926 Lobato viajou para Nova York, neste ano escreve O presidente negro. Neste seu único romance faz uma previsão sobre um futuro em que haveria a interligação pela rede de computadores. Noção, percepção ou consciência apurada para antever o que poderia acontecer com o avanço da tecnologia?




            Mas onde eu estou? Tenho consciência do que desejo para mim e para as pessoas com as quais me relaciono? Sim! Posso afirmar categoricamente. Os meus anseios são preenchidos por muitas e boas amizades, por boa família, por bons companheiros de trabalho, por estar consciente da minha evolução espiritual. De que as barbáries existem há séculos manifestadas ruidosa ou silenciosamente. De que o bem prevalece sobre o mal em qualquer circunstância. Não se desespere é fato inegável que o melhor sempre acontecerá. Experimente conversar diariamente com o seu interior. Lá você encontrará, acredite um Deus que é a nossa consciência, o nosso momento entre alegrias e tristezas, risos e choros, acessos de raiva vontade de... já passou. Plena é a vida para quem reflete e sabe onde está.

2 comentários:

  1. Parabéns Genaldo...
    A partir das reflexões é que atingimos a maturidade acadêmica..

    Dissemine esta ideia..
    Abraço,
    Fabiane

    ResponderExcluir