sábado, 9 de maio de 2020

História Resumida da Maçonaria

 

História Resumida da Maçonaria

Primeira Parte[1]

Texto desenvolvido por: Genaldo Luis Sievert M∴M∴

            Este relato tem por finalidade expor de forma sucinta a História da Maçonaria de acordo com o conteúdo das obras, A Maçonaria – Símbolos, segredos, significado - de autoria do Ilustre Irmão W. Kirk MacNulty, membro de Lojas na Inglaterra e nos Estados Unidos da América do Norte, bem como muito extrairemos em conteúdo de outras obras e entre elas está: A era das revoluções de Eric J. Hobsbawm, bem como da obra de Camino, Isaacson e Costa.

Desta forma, especificamente, pinçaremos extratos teóricos que reforçam a importância da participação de homens probos, íntegros e voltados ao bem comum.

            A intenção primeira é a exposta no paragrafo anterior, porém, sob o manto da curiosidade a intenção segunda é provocar e estimular a busca do conhecimento, sua ampliação e discussão, junto aos Irmãos da Loja[2] Aurora Maçônica, n°. 186 do Grande Oriente do Paraná, e todos aqueles, cuja intenção, é dilatar os horizontes intelectuais por meio do estudo.

            Assim iniciamos com um primeiro apanhado da obra de MacNulty (2007, p. 77):

“A História da Maçonaria propriamente dita começa numa taverna de Londres em 1717. Em trinta anos, a Ordem já estava presente em quase todos os países da Europa Ocidental, e logo depois chegou também às colônias de ultramar, entre as quais a Índia, a China e – o que talvez seja mais importante – a América do Norte. Embora perseguida pelos governos e pela Igreja, já no século XIX tornara-se uma instituição verdadeiramente global”.

            Um segundo pinçamento nos chama para uma reflexão sobre a origem da Maçonaria e, aqui sim, percebemos a importância da fundamentação teórica no que diz respeito ao estudo para que possamos distinguir fatos de especulações. Vejamos então o que o autor nos traz:

“A origem da Maçonaria é um dos maiores enigmas da história. O ofício operativo dos pedreiros medievais, os Cavaleiros Templários, os arquitetos e artesãos que construíram o Templo do Rei Salomão[3], até os Mistérios do mundo antigo – todos foram apresentados como possíveis originadores da Ordem. Estudos mais recentes, porém, demonstraram que boa parte da fundamentação filosófica da Maçonaria surgiu no Renascimento, quando uma curiosa fusão de tradições místicas como as da Cabala[4] e do Hermetismo[5] veio sobrepor-se uma estrutura simbólica derivada das corporações de ofício medievais”(MacNulty, 2007, p. 43).

            Diante destas considerações iniciais e visando propiciar uma rápida e ampla visão sobre a História da Ordem, apresentamos a organização dos conteúdos em tabelas conforme segue:

Tabela n° 01.

Discussões de diversos autores citados na obra de MacNulty

A Defence of Masonry – 1730/1738

Obra anônima publicada pela primeira vez em 1730 e incluída na edição de 1738 das Constituições de Anderson. Propõe a ideia de que a Maçonaria descende diretamente dos cultos de Mistérios da Grécia e da Roma clássicas. Essa ideia foi novamente defendida pelo maçom norte-americano Albert Pike,no livro Morals and Dogmas (século XIX).

No ponto de vista oposto Autores como: Henry Coil (Masonic Encyclopedia – 1961); Frances A. Yates estudou a história do pensamento durante o Renascimento (século XIV Itália).

Coil afirma que o vínculo direto da Maçonaria com os Mistérios da Antiguidade é impossível e que tal interpretação do simbolismo maçônico é tolice, pois, não existem provas de uma ligação ininterrupta entre os construtores do mundo clássico e os de meados do século XVII; e, além disso, nenhuma organização suspeita de guardar importantes segredos teria sobrevivido à Inquisição católica. Yates demonstrou que a essência da filosofia renascentista foi um corpo doutrinal chamado “tradição hermético-cabalística”. Demonstrou que o Renascimento não foi marcado apenas por desenvolvimentos na arte e arquitetura, mas sim por uma profunda mudança na atividade intelectual europeia.

W. Kirk MacNulty

Deixa claro que sua hipótese é: “... que a Maçonaria seja uma codificação da tradição hermético-cabalística; e talvez seja conveniente dedicar algum tempo ao exame dessa ideia”.

Mais teoria[6]

Outra teoria que gozou de recente popularidade foi a ideia de que a Maçonaria descende diretamente dos Cavaleiros Templários[7] – ideia que, mais uma vez, deve ter sido inspirada pelo Segredo Maçônico. A Capela de Rosslyn, na Escócia, há muito é associada à Ordem do Templo, e é tida em alta estima pelos maçons.

 

É razoável entender que as ideias maçônicas foram derivadas não da Antiguidade diretamente, mas da revivescência da cultura antiga no Renascimento.

Sobre os Cavaleiros Templários

Fazia parte da Ordem do Templo, ordem cristã de cavalaria fundada em 1118 para proteger os peregrinos que faziam a viagem à Terra Santa. No decorrer do tempo, eles construíram muitas igrejas, frequentemente de forma circular, imitando a Igreja do Santo Sepulcro de Jerusalém. Também adquiriram grande riqueza e influencia, gerando a inveja que lhes causou a queda. Jacques de Molay foi o último Grão-Mestre da Ordem do Templo. Foi acusado de heresia e queimado em 1314. Este fato foi o ponto culminante da perseguição aos Templários.

Fonte: O Autor. Organizado e resumido a partir da obra de MacNulty.

           

A importância do Renascimento

            O destaque: Marcos Vitrúvio Polião, nasceu por volta de 80 a.C. Durante sua vida teve no exército romano, porém, não foi esta atividade, durante a sua vida, a sua grande motivação. Segundo Isaacson, 2017, Vitrúvio se destacou na arte da arquitetura e nos projetos de construção de máquinas de artilheira. Vitrúvio, quase sempre, é citado em obras em que a história da Maçonaria é destaque. Deste modo a nossa curiosidade nos remete a mostrar a importância do personagem em questão, e, tomamos a liberdade, após pesquisar sobre o mesmo em trazer para este relato um trecho da obra de Isaacson, 2017, p. 173, que descreve:

 Suas missões o levaram a lugares tão remotos quanto o norte da África e regiões que agora pertencem à Espanha e à França. Mais tarde Vitrúvio se tornaria arquiteto e construiria um templo, que não existe mais, no Vilarejo de Fano, na Itália. Seu feito mais importante é uma obra literária, o único livro sobre arquitetura da Antiguidade Clássica que sobreviveu até nossos dias: De Architectura, conhecido atualmente como Dez livros sobre a arquitetura.

            Isaacson descreve ainda que a obra de Vitrúvio permaneceu silenciosa e adormeceu por cantos de prateleiras empoeiradas e somente deixou o estado de adormecimento no século XV. A partir daí tornou-se uma das várias obras da Antiguidade, assim como o foram o poema épico de Lucrécio – Sobre a natureza das coisas, e os discursos de Cícero. Estas e muitas outras obras formaram a base para o surgimento da Renascença.

            E por que esta citação a obra de Vitrúvio é importante nesse contexto? Pelo simples fato de que a obra de Vitrúvio remete os estudiosos a “uma representação concreta de uma analogia que remonta aos tempos de Platão e dos antigos e que se tornara uma metáfora definidora do Humanismo Renascentista: a relação entre o microcosmo do homem e o macrocosmo da terra”. Conforme Isaacson, 2017, p. 173.

            E para nós Maçons que salientamos e valorizamos o aperfeiçoamento individual dos membros da Ordem, essa citação ajuda a firmar o aspecto de evolução e aperfeiçoamento do indivíduo para a sua participação no coletivo social.

            Leonardo da Vinci anotou em sua arte e escritos que “Os antigos chamavam o homem de mundo menor, e, com certeza, o uso dessa expressão é muito bem aplicado, pois seu corpo é análogo ao mundo”, conforme citado por Isaacson, 2017.

            A obra de Vitrúvio tomou proporções de importância à época, pois este assinalara que, em relação às construções, deveria haver “uma correlação precisa entre seus componentes, assim como ocorre no caso de um homem com formas perfeitas”, Issacson, 2017.

            Vitrúvio, segundo Isaacson, foi o precursor do Homem vitruviano, que foi inicialmente idealizado de forma a ser colocado simetricamente um homem dentro de um círculo e um quadrado, para então, determinar as proporções ideais de uma igreja. Cabe lembrar-se da importância do estudo do círculo e do quadrado na Ordem Maçônica.

            Mas foi Leonardo da Vinci que elaborou, após muita pesquisa, o Homem de vitrúvio mais preciso de forma científica e artística; para demonstrar tal precisão transcrevemos a seguir um trecho da obra de Isaacson 2017 em que Leonardo da Vinci se refere às proporções do Homem vitruviano: “Se você abrir as pernas o suficiente para que sua cabeça seja rebaixada em um quatorze avos de sua altura e levantar os braços até que seus dedos toquem a linha que passa pelo topo da cabeça, saiba que o centro dos membros estendidos será o umbigo, e o espaço entre as pernas formará um triângulo equilátero”.  

Figura[8] N° 01.

 

Os escritos de Vitrúvio e de tantos outros, com certeza, é que motivaram estudiosos a relacionar o surgimento da Ordem Maçônica aos tempos mais remotos; a apropriação é quase que inevitável, porém, a que se terem cautela e fundamentos com base em pesquisas para tal relação.

            De qualquer forma a inclusão deste breve comentário sobre Vitrúvio é esclarecedor e enriquece o conceito histórico que acompanha o desenvolvimento da Maçonaria pelo mundo: o estudo e o aperfeiçoamento individual para formar um coletivo forte para apoiar e sedimentar uma sociedade justa para com os seus cidadãos.

            Após estas considerações retomamos as considerações de MacNulty, que descreve que Vicenzo Scamozzi analisa e discorre sobre elementos da arquitetura.

Vincenzo Scamozzi descreveu as colunas Toscanas, Dórica, Jônica, Coríntia e a Composta (também conhecida como Romana). Identificou e classificou pela primeira vez e definiu o profissional arquiteto, determinando que o mesmo deva ser capaz de desenhar e deve conhecer filosofia, história, aritmética, geometria, música, medicina, direito e astronomia.

            Durante o Renascimento, segundo MacNulty, houve um crescente interesse pela arquitetura mística e “pela tentativa de reconstruir com precisão as escrituras Bíblicas”. Além disto, ocorreu, também, “um grande interesse pelas filosofias místicas e alquímicas. A “Árvore da Vida” [9] cabalística, do século XVI, é uma representação do homem primordial”.

            Após estes eventos MacNulty, relata que a Ordem Rosa-Cruz “é um dos mais curiosos enigmas da história da Europa. Supostamente fundado no século XV por Christian Rosenkreutz, que teria viajado ao Oriente e trazido consigo um conhecimento esotérico essencial; é quase certo que ela só surgiu no século XVII, mas é possível que jamais tenha existido como uma Ordem operante, sendo apenas uma ideia filosófica. Há três documentos rosa-cruzes “autênticos” publicados em três anos sucessivos: dois manifestos – a Fama Fraternitatis e a Confessio Fraternitatis, de 1614 e 1615 – e, por fim, O matrimônio alquímico de Christian Rosenkreutz, de 1616. A Ordem parece ter-se dedicado ao estudo da natureza para alcançar a intuição espiritual”.

 Segunda Parte[10]

            Este segundo relato tem por finalidade expor de forma sucinta a História da Maçonaria, de acordo, com o conteúdo da obra A Maçonaria – Símbolos, segredos, significado, de autoria do Ilustre Irmão W. Kirk MacNulty, membro de Lojas na Inglaterra e nos Estados Unidos da América do Norte. Iniciamos a primeira discorrendo e trazendo, no nosso entendimento, os fatos e comentários do autor, mais relevantes. Nesta Segunda Parte teremos como ponto de partida a seguinte primeira citação:

“Em 1723, seis anos após a fundação da primeira Grande Loja, James Anderson publicou as Constituições da Maçonaria, o primeiro regulamento escrito referente à Ordem. As Constituições delinearam – e tornaram públicas – os princípios sobre os quais se fundava a Ordem” (2007, p. 75). 

            Diante da necessidade de resumir o conteúdo de tão brilhante relato histórico, iremos organizar em uma tabela, de forma cronológica, os principais eventos, que esclarecedores, nos darão uma dimensão da grandeza das ações dos Irmãos que exortaram os próprios Irmãos de Ordem e ao público em geral sobre as atividades da Maçonaria.

Tabela n° 02.

Data

Fato

Comentário do Autor do texto ou do livro base para estudo

1717

Primeira Grande Loja

Criada oficialmente proporcionou a sua evolução rapidamente.

1719

A importância do terceiro Grão Mestrado

Jean Téophile Desagulier (religioso francês). Membro da Royal Society. Atraiu para a Ordem diversos membros da vida intelectual local.

1720

O interesse por parte do público e as consequências.

Provocou o surgimento das primeiras revelações que pretendiam denunciar os “segredos da Maçonaria”. Nesta década o trabalho mais relevante foi o escrito por Samuel Pichard. Neste trabalho relatava com detalhes o ritual a que havia assistido.

1723

Assume o Grão Mestrado o Duque de Montagu. Grande número de nobres aderiu à Ordem.

Desta forma aumentou o interesse do público pelos eventos maçônicos. Novas Lojas surgiram, este fato gerou a necessidade de Grandes Lojas Provinciais, na própria Inglaterra e nos territórios de ultramar.

1726

Na França

Loge Au Louis d’Argent. Foi reconhecida pela Grande Loja da Inglaterra em 1732.

1734 - 1735

Holanda

A primeira Loja reuniu-se em uma taverna de Haia (1734).Uma segunda Loja foi formada no ano seguinte na mesma cidade. Quase que em seguida o Governo decretou a ilegalidade das Lojas.

1735

A Franco Maçonaria em expansão.

Surge a Grande Loja da França.

1738

Os poderes da Igreja

Bula Papal proíbe seus membros de se tornarem Maçons[11].

1738

Alemanha

“Frederico II foi iniciado na Loge d’Homburg”. Em 1740 este se tornou Rei da Prússia e tomou a Maçonaria sob sua tutela. A Ordem expandiu-se rapidamente, talvez, pelo fato de haver na Alemanha muitos principados. Em dado momento chegou a haver quinze Grandes Lojas naquele país. Hoje há pelo menos cinco. Há noticias de que a maioria já se juntou à Grande Loja Unida da Alemanha.

1739

A tentativa para conter a revelação.

A primeira Grande Loja mudou a palavra de reconhecimento associada aos dois primeiros Graus.

1740

As consequências da mudança de reconhecimento.

Irlandeses que estavam na Inglaterra não eram reconhecidos, pois, não tinham a palavra de reconhecimento que havia sido alterada. Diante deste fato passaram a constituir Lojas próprias.

1740

Dificuldades superadas.

Autorizado o funcionamento das Lojas os trabalhos seguiram regularmente e em 1756 surgiu a Grande Loja da Holanda.

1751

Os Irlandeses na Inglaterra.

Diante da dificuldade de acesso às Lojas Inglesas e por terem fundados suas próprias Lojas, constituíram neste ano a sua Grande Loja, que foi denominada como: Grande Loja dos Antigos. O motivo é que desejam que seus trabalhos reflitam a prática antiga e original da maçonaria.

1756 - 1813

Modernos versus Antigos

Por anos divergiram. Em 1756 os “Antigos” publicaram sua própria Constituição Ahiman Rezon. Os “Antigos” inicialmente so tinham Lojas em Londres, mas expandiram devido ao esforço de Laurence Dermott (Grão-Secretário). A reconciliação após todos estes anos aconteceu em 1813.

1766

França: as primeiras dificuldades

Neste ano suas atividades foram proibidas por Lei. As reuniões secretas foram entendidas como uma ameaça ao Governo.

1771

A retomada dos trabalhos

Reinicio dos trabalhos na França sob o Grão Mestrado de Louis-Philippe d’Orleans, então primo do Rei Luis XVI. Neste período intelectuais de destaque estiverem entre colunas: Montesquieu, Lavoisier, Mirabeau. Já naquela época e particularmente na França havia diversidade de interpretação sobre ensinamentos da Arte – “particularmente sobre a iniciação de mulheres e de ateus”. Muitas Lojas se desligaram e consequentemente novas Grandes Lojas surgiram. 

1776

A América do Norte

Durante os séculos XVII e XIX a Ordem se difundiu pelas colônias europeias. Já havia nas colônias norte americanas Lojas ligadas às Grandes Lojas dos Modernos e dos Antigos. MacNulty cita que durante o processo de independência dos Estados Unidos muitos modernos, fiéis ao Rei, migraram para o Canadá. Consta em sua obra que nos Estados Unidos as Lojas são de origem “Antiga” e muitas dão a sua Constituição o título de “Ahiman Rezon”. Nos Estados Unidos a Maçonaria se difundiu e cresceu rapidamente, sendo que no século XX já eram milhões. É uma Maçonaria com fortes traços de cultura material sedimentada com símbolos da doutrina e da moral maçônicas. E foi neste país que surgiu a Maçonaria Prince Hall “que de início so era aberta a afro-americanos”.

1801

Nos Estados Unidos

“foi nos Estados Unidos que surgiu o Rito Escocês tal como o conhecemos hoje. O número de Maçons norte-americanos continuou aumentando até meados do século XX, mas esse século também assistiu aos mais selvagens episódios de repressão à Ordem, especialmente na Alemanha de Hitler e na Espanha de Franco”.

1879

A presença feminina na Maçonaria

Marie Deraismes, foi iniciada na Maçonaria na Loge Libre Penseurs da Grande Loja Simbólica da Fança. Era uma Loja masculina. Este evento resultaria na formação de”Le Droit Humain”.  Uma Ordem Internacional de Lojas andróginas. O Dr. George Martins, advogado e Senador em Paris, Maçom, no final do século XIX, criou com ela a primeira Loja Co-Maçônica. Foi por seus esforços que “Le Droit Humain” tornou-se uma Ordem internacional, com sede em Paris.

Fonte: O Autor. Organizado e resumido a partir da obra de MacNulty.

“Os princípios da Maçonaria são o Amor Fraterno, a Beneficência e a Verdade. É importante praticá-los todos de forma equilibrada, mas a Verdade é o objetivo final”. (MacNulty, p. 136).

Nesta segunda parte do relato a que nos propomos, abordaremos, também, os três Graus Simbólicos que segundo MacNulty “constituem o próprio coração da Maçonaria. Mediante elaborados rituais e palestras, eles proporcionam ao maçom as ferramentas e o conhecimento necessários para trabalhar em seu desenvolvimento interior, enquanto a atmosfera fraterna da Loja lhe fornece um ambiente favorável para tal”. (p. 143).

O grande destaque para esta questão, dos Graus Simbólicos, é o processo do autoconhecimento; conhecer a si mesmo é sem dúvida o grande desafio que o Maçom terá pela frente.

Aliás, este desafio se lhe apresenta, quando do seu nascimento.

É no âmbito da família que inicia a sua caminhada; onde se percebe como pertencente a uma célula iniciática familiar, educativa, corretiva e condutora, no sentido mais puro de educação para conviver em sociedade.

Como tal percebe-se sujeito do processo. Do complexo processo da vida junto à sociedade com todas as suas facilidades e dificuldades.

E como sujeito ativo desta sociedade, um dia será “descoberto” por um Maçom e este o incitará a se revelar como um futuro Iniciado, aquele que principia a caminhada para o aperfeiçoamento pessoal, intimamente pessoal, fraterno e único, pois, quando, já como Maçom irá se deparar com a realidade de ter que compreender que somos, absolutamente, imperfeitos, e que a busca da correção para esta vida material será longa e cheia de percalços.

Conhecer a si mesmo passará a ser o desafio.

Simples assim.

Quando nos deparamos com as questões e os desafios do pensamento maçônico, percebemos, então, que os desafios se tornarão maiores, mas, com uma vantagem, todos os Irmãos o abraçarão e o manterão em proteção, para que possa seguir nos estudos e no aperfeiçoamento individual, que será adicionado ao coletivo, face às futuras contribuições sociais e intelectuais que este novo Maçom irá produzir.

Reflexão, eis a condição inata e única da individualidade.

Para tanto esta condição deve ser estimulada continuamente nos Maçons, mesmo que nos mais antigos, não há como agir distintamente, visto que, todos, indistintamente, são eternos Aprendizes e o aperfeiçoamento lhes é condição única para alavancar o aprimoramento.

Desta forma, os Graus Simbólicos são tratados isoladamente e em cada um deles o Maçom avança de forma ordenada. Não há nota de avaliação, não há julgamento. Há sim, entendimento de que o Irmão está pronto para avançar os estudos, com determinação, e acima de tudo solidificar a sua fé de crença na Divindade, que, na Maçonaria, é identificada como o Grande Arquiteto do Universo.

Os Graus Simbólicos são aqueles que alicerçam a caminhada Maçônica e auxiliam ao Irmão na sua vida profana.

Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, estes três primeiros graus serão o alicerce para uma profícua caminhada maçônica.

Terceira Parte[12]

 

            Diante destas breves anotações, como citamos inicialmente, Hobsbawm em sua obra também nos brinda com citações textuais relevantes sobre a participação dos Maçons, principalmente a partir do século XVIII, por meio da trilogia cujos títulos anotamos: 1) A era das revoluções, 1789 – 1848; 2) A era do capital 1848 – 1875; e 3) A era dos Impérios, 1875 – 1914. Destes procuraremos organizar de forma clara e sucinta as principais citações pertinentes ao envolvimento de membros da Ordem, tendo como fonte principal o primeiro título citado.

            Segundo Hobsbawm (2013, p. 20) o período compreendido em 1789 e 1848 “[...] constitui a maior transformação da história humana desde os tempos remotos quando o homem inventou a agricultura e a metalurgia, a escrita, a cidade e o Estado. Esta revolução transformou e continua a transformar o mundo inteiro”.

            Sem aprofundamento iremos nos ater – como pretendido inicialmente – às citações e observações do autor quanto aos eventos em que Maçons e Maçonaria estiveram lado a lado com a sociedade e seus movimentos em prol de um mundo mais justo.

            A primeira referência foi identificada no Capitulo 1, O mundo na década de 1780, desta, extraímos:

A grande Enciclopédia de Diderot e d’Alembert não era simplesmente um compêndio do pensamento político e social progressista, mas do progresso científico e tecnológico. Pois, de fato, o “iluminismo”, a convicção no progresso do conhecimento humano, na racionalidade, na riqueza e no controle sobre a natureza – de que estava profundamente imbuído no século XVIII – derivou sua força primordialmente do evidente progresso da produção, do comércio e da racionalidade econômica e científica que se acreditava estar associada a ambos. E seus maiores campeões eram as classes economicamente progressistas, as que mais diretamente se envolviam nos avanços tangíveis da época: os círculos mercantis e os financistas e proprietários economicamente iluminados, os administradores sociais e econômicos de espírito científico, a classe média instruída, os fabricantes e os empresários. Estes homens saudaram Benjamin Franklin, impressor e jornalista, inventor, empresário, estadista e negociante astuto, como símbolo do cidadão do futuro, o self-made-man racional e ativo. Na Inglaterra, onde os novos homens não tinham necessidade de encarnações revolucionárias transatlânticas, estes homens formavam as sociedades provincianas das quais nasceram tanto o avanço político e social quanto o científico. A sociedade lunar de Birmingham incluía entre seus membros o oleiro Josiah Wedgwood, o inventor da moderna máquina a vapor James Watt e seu sócio Mathew Boulton, o químico Priestley, o biólogo e gentil-homem Erasmus Darwin (pioneiro das teorias da evolução e avô do grande Darwin) e o grande impressor Baskerville. Estes homens se organizavam por toda a parte em lojas de franco-maçonaria, em que as distinções de classe não importavam e a ideologia do Iluminismo era propagada com um desinteressado denodo. (Hobsbawm, 2012, pp. 47-48).

 

No decorrer da obra – primeiro livro – conforme citado anteriormente, no Capítulo 3, Hobsbawm, avança em análise sobre a Revolução Francesa. Neste momento específico o agravante econômico atingia a monarquia. A França havia se envolvido em conflitos além mar. Segundo Hobsbawm “A crise do governo deu à Aristocracia e aos parlaments a sua chance”.

Hobsbawm (2013, p. 106), durante a análise da influência dos fatores que levaram à eclosão da Revolução Francesa, cita a participação maçônica conforme abaixo:

Em sua forma mais geral, a ideologia de 1789 era a maçônica, expressa com tão sublime inocência na Flauta mágica de Mozart (1791), uma das primeiras grandes obras de arte propagandísticas de uma época em que as mais altas realizações artísticas pertenceram tantas vezes à propaganda. Mais especificamente, as exigências do burguês foram delineadas na famosa Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. Este documento é um manifesto contra a sociedade hierárquica de privilégios nobres, mas não um manifesto a favor de uma sociedade democrática e igualitária.

           

No Capítulo 4, intitulado A Guerra, Hobsbawm analisa a guerra quase que ininterrupta, de 1792 a 1815 na Europa. Havia também guerras simultâneas fora do continente (Índia e Antilhas, p.e.). Uma época em que a literatura e o desenvolvimento das sociedades eram o “rumo” a seguir.

            Neste momento na Irlanda, “o descontentamento agrário e nacional deu ao “jacobinismo”[13] uma força política muito além do apoio efetivo de que desfrutava a ideologia maçônica e livre pensadora dos líderes “Irlandeses Unidos”. (Hobsbawm, 2013, p. 138)”.  O autor segue descrevendo que “Na Itália, o predomínio do Iluminismo e da maçonaria tornou a revolução imensamente popular entre os cidadãos instruídos [...] e uma pequena parte da nobreza [...] organizada nas lojas maçônicas”.

            No Capítulo 6 (pp. 179 – 211), intitulado As Revoluções, Hobsbawm descreve: “Poucas vezes a incapacidade dos governos em conter o curso da história foi demonstrada de forma mais decisiva do que na geração pós-1815”.

            Aqui Hobsbawm descreve que ocorreram três ondas revolucionárias importantes no mundo ocidental entre 1815 e 1848, sendo elas:

ü  A primeira: “ocorreu em 1820 – 1824. Ficou limitada a Europa”. Espanha, Nápoles e Grécia.

ü  A segunda: “ocorreu em 1829 – 1834 e afetou toda a Europa a oeste da Rússia e o continente norte-americano, pois a grande época de reformas do presidente Andrew Johnson (1829-1837), embora não diretamente ligada aos levantes europeus, deve ser entendida como parta dela”.

ü  A terceira a de 1848: “[...] na França, em toda a Itália, nos Estados alemães, na Suíça”. “[...] O que em 1789 fora o levante de uma só nação era agora, assim parecia, “a primavera dos povos” de todo um continente”.

E neste período Hobsbawm (2013, p. 189) destaca que: “Pode-se observar de passagem que a sociedade secreta ritualística e hierárquica, como a maçonaria, atraia muito fortemente os militares por razões compreensíveis”.

            Ao avançarmos na obra em questão nos deparamos com o Capítulo 12 (2013, pp. 339 – 362) com o título A ideologia Religiosa.

Vamos extrair alguns pontos sobre o tema abordado pelo autor, para que possamos refletir a respeito:

ü  O que os homens pensam a respeito do mundo é uma coisa, e outra muito distinta são os termos em que o fazem.

ü  A religião, uma coisa semelhante ao céu, da qual ninguém escapa e que abarca tudo o que está sobre a terra, tornou-se algo parecido com um acúmulo de nuvens, uma grande característica do firmamento humano, embora limitado e variável.

ü  Os homens polidos e instruídos poderiam tecnicamente acreditar no ser supremo, embora esse ser não tivesse qualquer função exceto a de existir, e certamente sem interferir nas atividades humanas nem exigir de outra forma de veneração do que o reconhecimento benevolente.

ü  Por fim Hobsbawm descreve que: “Se havia uma religião florescente entre a elite do final do século XVIII, esta era a maçonaria racionalista, Iluminista e anticlerical” (p. 340-341, 2013)[14].

Avante. Encontramos no Capítulo 14 (2013, pp. 391 – 426), o título As Artes.

As artes foram e sempre será uma forma expressiva que os humanos possuem de registrar e demonstrar sua evolução, sua crença – sejam no concreto ou no abstrato, os desejos e aspirações por dias melhores. A revelação do seu intimo, os anseios e desejos não realizados no amor familiar e material. A seguir transcrevemos trecho do capítulo:

Neste período, sem dúvida, os artistas eram diretamente inspirados e envolvidos pelos assuntos públicos. Mozart escreveu uma ópera propagandística para a altamente política maçonaria (A flauta mágica em 1790), Beethoven dedicou a Eroica a Napoleão como herdeiro da Revolução Francesa. Goethe foi, pelo menos, um homem de Estado e laborioso funcionário. Dickens escreveu romances para atacar os abusos sociais. Dostoiesvski foi condenado à morte em 1849 por atividades revolucionárias. Wagner e Goya foram para o exílio político. [...] Nunca foi menos verdadeiro definir os artistas criativos como “não compreendidos”.

            Avançamos - nos tornamos românticos na vida e na arte. Neste período Hobsbawm detecta novamente a participação e influência da maçonaria, o que passamos a transcrever:

[...] a tradição moral do Iluminismo do século XVIII e da maçonaria fazia o mesmo no setor mais emancipado e antirreligioso. Exceto na busca do lucro e na lógica, a vida da classe média era uma vida de emoção controlada e de perspectivas limitadas deliberadamente. A enorme parcela da classe média que, no continente europeu, não estava envolvida em negócios mas em funções governamentais, como funcionários, professores, ou em alguns casos como pastores, estava ausente até mesmo da fronteira expansionista da acumulação de capital, e o mesmo acontecia com o modesto burguês de província que, consciente de que a riqueza da cidade pequena era o limite de suas possibilidades, não se deixava impressionar pelos padrões de riqueza e poderio de sua época. (2013, pp. 418-419).

            Não se referindo diretamente a ações de Maçons ou da Maçonaria, mas, descrevendo ações que iriam interferir diretamente nas políticas dos Estados Modernos, Hobsbawm descreve e pontua algumas ações oriundas da Revolução Francesa, que anotaremos, pois, são antes de qualquer coisa reflexo dos anseios individuais de qualquer membro da sociedade à época e atual.

            Vejamos aquelas que tornaram moderno o Estado Francês – por orientação de Napoleão - e estimularam o desenvolvimento de outras Nações:

 

ü  Criação da Escola Politécnica em 1795; que pretendia ser uma escola para técnicos de todas as especialidades;

ü  Primeiro esboço da Escola Normal Superior, 1794;

ü  Renascimento da Academia Real;

ü  Criação do Museu de História Natural 1794;

ü  Influências: em Praga, Viena e Estocolmo, São Petersburgo, Copenhague, Alemanha e Bélgica, Zurique e Massachusetts, mas não na Inglaterra.

ü  Impactou a educação na Prússia e a nova Universidade de Berlim.

ü  A Inglaterra sob o impacto de uma forte economia baseada na pesquisa tornava possível a criação de laboratórios particulares.

 

Quarta Parte

 

Muito mais do que os autores já citados nos proporcionaram, incluiremos também a obra de Rizzardo da Camino intitulada Introdução à Maçonaria: história, filosofia, doutrina, como um elemento orientador ao entendimento dos fatos que sedimentaram a Maçonaria no Brasil.

Camino, assim como Costa e MacNulty traçam um longo e esclarecedor discurso, sendo os dois primeiros, firmes em lançar mãos de elementos sólidos que remontam às evidências históricas oriundas dos Egípcios, Hebreus e Gregos.

Camino e Costa caminham textualmente respeitando a tênue linha que separa ciência e pesquisa do perigoso campo das suposições. Costa (2006, p. 51) discorre segundo suas intenções, esclarecendo que: “Na compilação e elaboração deste livro não se adotou o método de pesquisa histórica, embora nele estejam citados diversos fatos históricos. É muito menos significativo determinar a origem da Maçonaria. Mais importante é mostrar o que ela realmente ensina”.

Da obra de Costa indicamos a leitura dos capítulos constantes entre a página 51 e 179.

Sobre as condenações da Igreja Católica para com a Maçonaria é esclarecedor o conteúdo apresentado por Camino nos Capítulos intitulados: Constituição “In Eminenti”, de Clemente XII, sendo esta a primeira condenação expressa por uma autoridade da Igreja Católica, cuja razão principal para tal é: “caráter sigiloso e secreto desta associação, segredo que é mantido sob juramento e penas graves” (2005, p. 62). O segundo estaque é intitulado “Constituição Quod Graviora”, de Leão XII.

Sobre esta questão se destaca também, a Carta “Quamquam Dolores”, a Dom Frei Vital, de Pio IX. É de Pio IX a “Encíclica sobre a Maçonaria no Brasil” bem como a locução “Multiplices Inter Machinationes”.

Pio IX renovou em mais de 20 documentos a condenação à Maçonaria, porém a mais longa publicação contra a Maçonaria é a “Encíclica Humanum Genus” de Leão XIII, publicada em 1884. (2005, p. 80).

A todas estas condenações Giuseppe Mazzani escreve uma carta reagindo à Última Encíclica Papal contra a Maçonaria, conforme consta em Camino (2005, p. 100 – 112). Giuseppe nesta resposta histórica concita o Papa a rever seus conceitos de fé e história e termina “Reconciliai-vos com Deus; com a humanidade, já não podeis”.

Especificamente sobre a chegada da Maçonaria às terras brasileiras Camino relata que “Até chegar ao Brasil, a Maçonaria percorre toda a América”. Prossegue o autor (2005, p. 117):

Entre os séculos XVI e XIX, a influência dos ingleses no Brasil foi tão notável que se pode afirmar ter sido a espinha dorsal do desenvolvimento cultura e social. Os piratas, aventureiros, comerciantes, técnicos, missionários, professores, médicos e cônsules, eis os ingleses que, desde os primórdios do descobrimento até o fim do século passado, entrosaram-se de tal forma no Brasil que suas atuações e infiltrações passaram despercebidas até há bem pouco, quando historiadores, como Gilberto Freire, aprofundaram-se nos arquivos para examinar o que houvera com todos os detalhes e minúcias, pecando porém no que diz respeito à atuação da Maçonaria britânica. É evidente que a presença da cultura inglesa nos foi benéfica: seu comércio pela honradez propiciou um exemplo digno de ser imitado. Não se pode deixar de lado o fato coincidente de que as primeiras Lojas Maçônicas instaladas no Rio de Janeiro foram justamente nas ruas onde dominava o comércio dos ingleses. Para cá acorreram grandes vultos, cientistas e escritores podendo ser citados: Darwin, Mawe, Luccock, Koster, Maia Graham, Walsh, Bates, Wallace, Burton, etc. Os escritores ingleses retrataram o Brasil justamente na fase inicial, quando aqui ninguém sonharia fazê-lo. History, de Robert Southey. Interior do Brasil, de Burton. Sobre o Amazonas, de Bates. Brazilian Sketches, de Kipling. Brazilian Mystic: The life and miracles of Antonio Conselheiro, de R. B. Cunninghame Graham. Voyage to Brazil, de Maia Graham.

           

            Em todas estas obras, segundo Camino não há preocupação literária, mas sim documental e retratam especialmente seus concidadãos ingleses.

            O autor enumera diversos fatos que iremos resumir e apresentar abaixo:

ü  Gilberto Freire não captou a estratégia inglesa e não se apercebeu de que a Maçonaria inglesa não deixaria escapar a oportunidade de se fazer presente por meio de todo inglês que por aqui aportasse.

ü  O escritor Félix Ferreira era Maçom e foi protegido pela Maçonaria; escapou às garras da polícia lisboeta e veio refugiar-se no Brasil, mais exatamente em Pernambuco.

ü  A proteção da Maçonaria britânica ligava-se à elevada missão de Hipólito da Costa de ser um dos elos indispensáveis e eficientes da Independência da América.

ü  O Visconde de Taunay fez referência, em seu livro Estrangeiros Ilustres e Prestimosos ao Brasil, aos nomes de Cochrane, James Norton e tantos outros como participantes de todas as guerras e de todas as revoluções.

ü  A presença constante dos ingleses no Brasil justifica a notícia de que a Maçonaria madrugara no Brasil.

ü  A presença Maçônica inglesa teve grande influência na abolição da escravatura.

ü  Os ingleses fundaram diversas Lojas sendo que a noticia da presença maçônica inglesa no Brasil, segundo James Martins Harvey (English Freemasonary in Brazil), dá como iniciada em 1815, pelas mãos do Irmão Joseph Ewbank, que mais tarde filiou-se à Loja Comércio e Artes, em 1822.

ü  Devido a sua influência a maçonaria inglesa fundou inúmeras Lojas, como por exemplo, na Jamaica 1739; Ilha Antigo 1738; Martinica, com patente de Paris 1738; Barbados 1740; [...] Guiana Britânica 1771 pela Holanda; Guiana Francesa 1755 pelo Oriente da França, entre tantas outras.

Ainda segundo Camino “A notícia que temos do surgimento da primeira Loja nos diz que foi em Pernambuco, com a denominação mascarada de “Areópago de Itambé”, sendo instalada em 1796 pelo botânico Manoel de Arruda Câmara, ex-frade Carmelita, diplomado em medicina pela Faculdade de Montpellier”; inúmeras Lojas começaram a surgir, Assim, para facilitar o entendimento e melhor visualizar a evolução cronológica de fundação destas Lojas, iremos organizar os dados em uma tabela.

Tabela N° 03.

Ano ou data de referência

Denominação da Loja

Localidade

1801

União ou Reunião

Praia Grande Niterói, mais tarde uniu-se com as Lojas Constância e Filantropia.

1802

Academia de Suassuna

Cidade do Cabo – província de Pernambuco.

1802

Academia do Paraiso

Recife

1802 – 5 de julho

Virtude e Razão

Salvador

1803

Lojas Constância e Filantropia

Fundadas por emissários portugueses.

1807 – 30 de março

Virtude e Razão Restaurada, depois alterado para Humanidade.

 

1809

Regeneração

Próximo a Olinda

1812

Distintiva

Em terras fluminenses

1812 a 1816

Oficina de Igarassu, Universidade Democrática, Pernambuco do Oriente, Pernambuco do Ocidente, Guatimosim.

Respectivamente: Pernambuco; Recife; Recife; Pernambuco; Recife.

1813 – 12 de setembro

Obreiros da Loja Virtude e Razão fundaram a Loja União

Bahia

1813

As três Lojas: Virtude Razão; Humanidade e União instalaram o primeiro Grande Oriente do Brasileiro.

Primeiro Grão-Mestre Antônio Carlos Ribeiro de Andrada

1815 – 15 de novembro

Comércio e Artes

Rio de Janeiro - filiou-se ao Grande Oriente Lusitano.

1816

Beneficência e São João de Bragança – ambas originarias da “Comércio e Artes”..

Rio de Janeiro, para que as Lojas funcionassem uníssonas, foi criada uma “Grande Loja Provincial”.

1819

Loja disfarçada denominada “Clube Recreativo e Cultural da Velha Guarda”

Fechada em 26 de fevereiro de 1821. Em 24 de abril de 1821, D. João VI retornou a Portugal.

1821 – 24 de junho

Reinstalação da Loja Comércio e Artes com o nome de Loja Comércio e Artes na Idade do Ouro.

 

 

Surge o primeiro jornal que se possa considerar maçônico: Revérbero Constitucional Fluminense.

 

1822 – 9 de janeiro

Surge o manifesto obra de Clemente Pereira e Joaquim Gonçalves Ledo, com 8 mil assinaturas

Entregue ao Príncipe - constitui o primeiro passo a descoberto a caminho da Independência.

1822 – 17 de junho

É criado o Grande Oriente Brasileiro.

Grão-Mestre José Bonifácio de Andrade e Silva.

1822

A Loja Comércio e Artes é desdobrada em três Lojas Metropolitanas:

 

  Fonte: O Autor a partir da obra de Camino, 2005.

 

Segundo descrições de Camino os primeiros movimentos Maçônicos mantiveram-se ligados, obviamente, às Potências estrangeiras, Grandes Lojas da Inglaterra, França e Portuguesa.

A partir de 1822 foi oficializado o Grande Oriente Brasileiro e posteriormente algumas Grandes Lojas, naquele momento denominadas de Grande Oriente, como p.e., o Grande Oriente Provincial do Rio de Janeiro, Paulistano, entre outros, os quais legitimaram o Grande Oriente Brasileiro.

Para o Grande Oriente Brasileiro foi eleito o Senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, porém, com a reabilitação de José Bonifácio, este retorna às atividades e se dá como reinstalado ao antigo Grande Oriente do Brasil.

Respeitadas as mais diversas opiniões a Maçonaria Brasileira passou durante anos a fio por conflitos de autoridade, reconhecimento ou não por parte de Grandes Lojas.

Irmãos de forma arbitrária, por parte de suas Potências deixaram de praticara a Inter visitação.

E não devemos nos lançar ao passado mais remoto, não, nada disso é necessário, estas decisões absurdas e sem sentido, e que se apoiam sob o manto do egoísmo e da busca pelo poder é que tornam difícil a arte de praticar Maçonaria.

Poderíamos nos estender, encetar pesquisas amplas e profundas, porém, todas fugiriam ao princípio básico que está contido na palavra irmandade.

Se somos Irmãos por que não nos reconhecemos como iguais? Qual a importância de uma estrelinha a mais nos paramentos? Será que o “poder” de assinar, determinar, proibir, etc., suplanta a vontade de boa convivência entre Irmãos? Com certeza não.

Para citar apenas um fato, entre tantos outros, alguns bastante recentes, basta consultar a obra de Camino, no capítulo intitulado Círculo Beneditino[15].

Vamos ficar com o simples: somos todos Irmãos. O motivo é único: estamos inseridos no mesmo contexto, somos Maçons e entendemos, também, que as divisões por motivos os mais diversos possíveis continuarão a acontecer, também por um motivo bastante simples, somos humanos suscetíveis às mazelas do egoísmo e do suposto poder que um Grau qualquer poderá nos dar.

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Abbagnano, Nicola. Dicionário de Filosofia. 6° Ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,2012.

Camino, Rizzardo da. Introdução à Maçonaria: história, filosofia, doutrina. São Paulo: Madras, 2005.

Costa, Wagner Veneziani. Maçonaria: Escola de Mistérios: A Antiga Tradição e seus Símbolos. São Paulo: Madras, 2006.

Hobsbawm, Eric J. A era das revoluções, 1789 – 1848. 32° Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.

Hobsbawm, Eric J. A era do capital, 1848 – 1875, 21° Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.

Hobsbawm, Eric J. A era dos Impérios, 1875 – 1914, 17° Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.

Isaacson, Walter. Leonardo da Vinci. 1. Ed. Rio de Janeiro: Intrinseca, 2017.

MacNulty, W. Kirk. A Maçonaria, Símbolos, segredos, significado. WMF Martins Fontes, São Paulo, 2007. Revisão de técnica de Z. Rodrix.

 

                                                                                    



[1] Para esta Primeira Parte a partir da obra de MacNulty o resumo para estudo se refere ao subtítulo “A Aurora da Maçonaria”.

[2] “As nuanças de significado da palavra “Loja" são complexas. Podia ser um edifício, desde um barracão tosco a uma estrutura permanente [...]”. Costa, 2006, p. 139.

[3] Para saber mais: “As chaves de Salomão – o Falcão de Sabá” de autoria de Ralph Ellis, São Paulo: Madras, 2004. ”Os Segredos do Templo de Salmão”, Kevin L. Gest. São Paulo: Madras, 2009.

[4] Kabalah (= tradição). Uma das fontes da filosofia judaica medieval; é uma doutrina secreta que foi de início transmitida oralmente, depois exposta por alguns rabinos em certo número de tratados, dos quais dois nos chegaram íntegros ou quase, O livro da Criação (Yetsirah) e o Livro do Esplendor (Zohar). Esses livros expõem uma doutrina semelhante à dos neoplatônicos e dos neopitagóricos dos primeiros séculos da era cristã.

[5] Hermetismus. Indica-se com este termo a doutrina filosófica contida em alguns textos místicos que apareceram no século I d,C. e chegaram até nos com o nome de Hermes Trismegisto. Esses escritos tendem a reintegrar a filosofia grega na religião egípcia. Hermes é identificado com o deus egípcio Theut ou Thot. Trata-se de textos de tom místico que, em oposição ao cristianismo, defendem o paganismo e as religiões orientais. Notas 4 e 5 obtidas a partir de: Abbagnano, Nicola. 1901-1990. Dicionário de Filosofia, 1° Ed. Brasileira. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.

[6] Para ampliar o conhecimento a respeito consultar o capítulo “Os Templários”, parte integrante da obra Maçonaria: Escola de Mistérios: A Antiga Tradição e seus Símbolos. Wagner Veneziani Costa. São Paulo: Madras, 2006.

[7] Para saber mais indicamos a obra: Templários: as sociedades secretas e o mistério do Santo Graal; Olsen, Oddvar, 1971. Rio de Janeiro: BestSeller, 2011.

[9] Para saber mais: Consultar a obra Guia de Simbolos, de Claudio Blanc, Editora Online, disponível para Kindle.

[10] Para esta Segunda Parte a partir da obra de MacNulty o resumo para estudo se refere ao subtítulo “A reconstrução do Templo”.

[11] Data de 1738, a primeira condenação expressa e formal da Maçonaria por parte da suprema autoridade da Igreja Católica. [...] indicada por Clemente XII. Conforme Camino (2005, p. 62).

[12] Anotações pesquisadas e destacadas a partir da obra de Eric J. Hobsbawm. Ver referências.

[14] O Capitulo 12, em especial, deve ser alvo de estudo aprofundado por parte dos leitores, diante da complexidade existente entre “fé e superstição”. Nota deste Autor. Ver páginas 339 a 362.

[15] Obra citada à página, 260.