A morte
Genaldo Luis Sievert
Objetivo inalcançavel. Ao longo
dos séculos humanos refletem sobre esta desconhecida caminhada de transformação
do material ao imaterial. Da razão à reflexão. Do inexplicável momento em que
deixamos de poder traduzir o que pensamos e o que sentimos, o que gostaríamos
de haver realizado, transformado, tornado feliz, segundos, horas ou dias mais
intensos. Durante nossa permanência material o que mais nos intriga, sem
dúvida, é o sentido da morte, sua significância, qual a necessidade de tal
estado de transformação. De forma sábia somos tomados pelo dia a dia e quando
menos esperamos estamos próximos do dia da partida ou de um alarme falso, porém
assustador, que novamente nos conduz à reflexão e à busca do entendimento do
evento que há séculos intriga os homens e que os leva a refletir, não
importando o momento material de evolução pelo qual passa a sociedade em que
estamos inseridos. Tenho vivenciado estes momentos, através da literatura
escrita há séculos e de estudos recentes realizados nas Lojas Maçônicas que
frequento e mesmo sem saber ou entender com profundidade o estado máximo a que
desejamos chegar material e espiritualmente continuo firme em meus propósitos
de entendimento do momento máximo da vida humana – o da transformação.
Acredito, por reflexões realizadas, que nos será permito individualmente o
entendimento de acordo com a capacidade individual de cada um de nós, da
prática da virtude, do amor e ajuda ao próximo, da constante busca da lapidação
do eu interior, pois, seremos sem dúvida, eternos iniciados, não importando o
quão sábios nos imaginamos.
Ao realizar alguns estudos
sobre o tema deparei-me com literaturas interessantes e que passso a citar:
“Eis aí, pois, aquilo contra o que devemos nos previnir;
não permitamos que encontre abrigo em nossa alma essa idéia de que nos
raciocínios nada há que seja sadio; mas aceitemos antes a idéia de que é a
nossa própria maneira de ser que ainda não é sadia; que somos antes nós que
devemos, como homens, esforçar-nos, com toda a nossa vontade, por comportar-nos
de maneira sadia: tu, como os outros, tendo em vista a vida, toda a vida que se
seguirá; eu tendo em vista somente a morte, eu, que corro o risco, no momento
em que somente dela se trata, de comportar-me, não como homem que aspira à
sabedoria, mas como aquele a quem falta inteiramente educação filosófica e como
quem quer ter razão a todo custo. Repara nessas pessoas quando estão para
discutir qualquer problema: não cuidam do verdadeiro sentido daquilo sobre o
que falamos, mas somente de que os circunstantes adotem as suas teses pessoais.
E penso que, entre mim e elas, essa será a única diferença, no caso presente...
Se, ao contrário, nada houver depois da morte, então, pelo menos durante o
tempo que precede tal desenlace, eu não terei importunado com as minhas
lamentações os que estão perto de mim”. (trecho extraído de Fédon, Diálogo
sobre a Alma e Morte de Sócrates, Platão (Aristocles) 427 a.C. 348/347, I
Parte, página 66, editora Martin Claret 2007- Sócrates discorre sobre o assunto
a Símias e Cebes).
Vou continuar extraindo de
Fédon mais reflexões dos diálogos ali desenvolvidos por Platão.
“Dize-me, continuou Sócrates, não achas ser esta uma
prova bastante? Um homem que vemos lamentar-se no momento de morrer mostra que
não é a sabedoria que ele ama, mas o corpo, não é?”. ( A Virtude Verdadeira,
Fédon idem página 32).
Despojado que fui de meus
pertences, limitei-me a aceitar com resignação e confiar em meu Guia e assim
tem sido a minha caminhada nas iniciações maçônicas e na vida profana; não é a
vida de um constante ganhar e perder, seja bens materiais ou conhecimento?
“É possível, dizem eles, que a alma, uma vez separada do
corpo, não exista mais em nenhum lugar; talvez, no mesmo dia em que o homem
morra, ela se destrua e morra: desde o instante dessa separação, talvez ela
saia do corpo para dissipar-se como um sopro, ou como fumo, e assim,
esvaindo-se e desfazendo-se, nada mais seja, em nenhum lugar”. (O Problema da
Imortalidade, Fédon idem página 35).
Tudo será em algum lugar, em
algum momento; no tempo certo a cada um de nós aparecerá o conforto da luz
Divina e da esperança no eterno ciclo universal do aperfeiçoamento da vida;
vivenciaremos momentos diferentes e sempre, cada um deles será motivo de reflexão,
emoção, recordação e da sensação de já haver vivido aquele momento grandioso,
feliz ou não.
“Há, entretanto, conitnuou Sócrtaes, pelo menos uma coisa
sobre a qual vós deveis refletir: se a alma é verdadeiramente imortal, ela
precisa do nosso cuidado , não somente durante o tempo que dura o que chamamos
vida, mas durante a totalidade do tempo. E, depois do que se disse, não cuidar
dela, segundo parece, seria grave perigo. Certamente, se a morte fosse uma
libertação de todas as coisas, que fortuna não seria para os maus, os quais,
morrendo, ao mesmo tempo em que se sentiriam livres do corpo, sê-lo-iam também,
com a alma, da sua própria maldade! Mas, na realidade, agora que a alma se
revelou imortal,não há nenhuma saída para seus males, nenhuma outra salvação,
senão a de se tornar a melhor possível e a mais sábia. Portanto, a alma nada
mais leva consigo, ao chegar ao Hades, do que a sua formação moral e seu modo
de vida, que é justamente, segundo a tradição, o que mais beneficia ou
prejudica a quem morre, desde o começo de sua viagem para o além”. (O problema
da sobrevivência das almas, Fédon Parte II idem página 93).
Além das citações já efetuadas,
gostaria de enriquecer este trabalho com mais algumas que comprovam a
preocupação dos humanos com a morte ao longo dos séculos:
“Tudo o que somos é o resultado do que pensamos”. Buda,
Regra de Ouro (extraido de As Origens Históricas da Mística Maçônica, José
Castellani, Editora Landmark, 2005, p. 110).
INICIAÇÃO
“Não dormes sob os ciprestes
Pois não há sono no mundo.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser,
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ...
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não ‘stas morto, entre
ciprestes.
... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ...
Neófito, não há morte”.
(extraído de Cancioneiro /
Fernando Pessoa, L&PM,2008, p. 126)
Bibliografia:
PLATÃO, Fédon, Diálogo Sobre a
Alma e Morte de Sócrates, impresso no inverno de 2007, Editora Martin Claret
Ltda, 151 páginas, São Paulo 2007.
PESSOA, Fernando, Cancioneiro,
impresso no outono de 2008, L&PM Editores, 183 páginas, Porto Alegre 2008.
CASTELLANI, José, As Origens
Históricas da Mística Maçônica, impresso em 2005, Editora Landmark, 158
páginas, São Paulo.
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