quarta-feira, 28 de maio de 2014

A morte


A morte

 
Genaldo Luis Sievert

 

Objetivo inalcançavel. Ao longo dos séculos humanos refletem sobre esta desconhecida caminhada de transformação do material ao imaterial. Da razão à reflexão. Do inexplicável momento em que deixamos de poder traduzir o que pensamos e o que sentimos, o que gostaríamos de haver realizado, transformado, tornado feliz, segundos, horas ou dias mais intensos. Durante nossa permanência material o que mais nos intriga, sem dúvida, é o sentido da morte, sua significância, qual a necessidade de tal estado de transformação. De forma sábia somos tomados pelo dia a dia e quando menos esperamos estamos próximos do dia da partida ou de um alarme falso, porém assustador, que novamente nos conduz à reflexão e à busca do entendimento do evento que há séculos intriga os homens e que os leva a refletir, não importando o momento material de evolução pelo qual passa a sociedade em que estamos inseridos. Tenho vivenciado estes momentos, através da literatura escrita há séculos e de estudos recentes realizados nas Lojas Maçônicas que frequento e mesmo sem saber ou entender com profundidade o estado máximo a que desejamos chegar material e espiritualmente continuo firme em meus propósitos de entendimento do momento máximo da vida humana – o da transformação. Acredito, por reflexões realizadas, que nos será permito individualmente o entendimento de acordo com a capacidade individual de cada um de nós, da prática da virtude, do amor e ajuda ao próximo, da constante busca da lapidação do eu interior, pois, seremos sem dúvida, eternos iniciados, não importando o quão sábios nos imaginamos.

Ao realizar alguns estudos sobre o tema deparei-me com literaturas interessantes e que passso a citar:

            “Eis aí, pois, aquilo contra o que devemos nos previnir; não permitamos que encontre abrigo em nossa alma essa idéia de que nos raciocínios nada há que seja sadio; mas aceitemos antes a idéia de que é a nossa própria maneira de ser que ainda não é sadia; que somos antes nós que devemos, como homens, esforçar-nos, com toda a nossa vontade, por comportar-nos de maneira sadia: tu, como os outros, tendo em vista a vida, toda a vida que se seguirá; eu tendo em vista somente a morte, eu, que corro o risco, no momento em que somente dela se trata, de comportar-me, não como homem que aspira à sabedoria, mas como aquele a quem falta inteiramente educação filosófica e como quem quer ter razão a todo custo. Repara nessas pessoas quando estão para discutir qualquer problema: não cuidam do verdadeiro sentido daquilo sobre o que falamos, mas somente de que os circunstantes adotem as suas teses pessoais. E penso que, entre mim e elas, essa será a única diferença, no caso presente... Se, ao contrário, nada houver depois da morte, então, pelo menos durante o tempo que precede tal desenlace, eu não terei importunado com as minhas lamentações os que estão perto de mim”. (trecho extraído de Fédon, Diálogo sobre a Alma e Morte de Sócrates, Platão (Aristocles) 427 a.C. 348/347, I Parte, página 66, editora Martin Claret 2007- Sócrates discorre sobre o assunto a Símias e Cebes).

Vou continuar extraindo de Fédon mais reflexões dos diálogos ali desenvolvidos por Platão.

            “Dize-me, continuou Sócrates, não achas ser esta uma prova bastante? Um homem que vemos lamentar-se no momento de morrer mostra que não é a sabedoria que ele ama, mas o corpo, não é?”. ( A Virtude Verdadeira, Fédon idem página 32).

Despojado que fui de meus pertences, limitei-me a aceitar com resignação e confiar em meu Guia e assim tem sido a minha caminhada nas iniciações maçônicas e na vida profana; não é a vida de um constante ganhar e perder, seja bens materiais ou conhecimento?

            “É possível, dizem eles, que a alma, uma vez separada do corpo, não exista mais em nenhum lugar; talvez, no mesmo dia em que o homem morra, ela se destrua e morra: desde o instante dessa separação, talvez ela saia do corpo para dissipar-se como um sopro, ou como fumo, e assim, esvaindo-se e desfazendo-se, nada mais seja, em nenhum lugar”. (O Problema da Imortalidade, Fédon idem página 35).

Tudo será em algum lugar, em algum momento; no tempo certo a cada um de nós aparecerá o conforto da luz Divina e da esperança no eterno ciclo universal do aperfeiçoamento da vida; vivenciaremos momentos diferentes e sempre, cada um deles será motivo de reflexão, emoção, recordação e da sensação de já haver vivido aquele momento grandioso, feliz ou não.

            “Há, entretanto, conitnuou Sócrtaes, pelo menos uma coisa sobre a qual vós deveis refletir: se a alma é verdadeiramente imortal, ela precisa do nosso cuidado , não somente durante o tempo que dura o que chamamos vida, mas durante a totalidade do tempo. E, depois do que se disse, não cuidar dela, segundo parece, seria grave perigo. Certamente, se a morte fosse uma libertação de todas as coisas, que fortuna não seria para os maus, os quais, morrendo, ao mesmo tempo em que se sentiriam livres do corpo, sê-lo-iam também, com a alma, da sua própria maldade! Mas, na realidade, agora que a alma se revelou imortal,não há nenhuma saída para seus males, nenhuma outra salvação, senão a de se tornar a melhor possível e a mais sábia. Portanto, a alma nada mais leva consigo, ao chegar ao Hades, do que a sua formação moral e seu modo de vida, que é justamente, segundo a tradição, o que mais beneficia ou prejudica a quem morre, desde o começo de sua viagem para o além”. (O problema da sobrevivência das almas, Fédon Parte II idem página 93).

Além das citações já efetuadas, gostaria de enriquecer este trabalho com mais algumas que comprovam a preocupação dos humanos com a morte ao longo dos séculos:

            “Tudo o que somos é o resultado do que pensamos”. Buda, Regra de Ouro (extraido de As Origens Históricas da Mística Maçônica, José Castellani, Editora Landmark, 2005, p. 110).

            INICIAÇÃO

            “Não dormes sob os ciprestes

            Pois não há sono no mundo.

            ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

            O corpo é a sombra das vestes

            Que encobrem teu ser profundo.

            Vem a noite, que é a morte,

            E a sombra acabou sem ser,

Vais na noite só recorte,

Igual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro

Tiram-te os Anjos a capa.

Segues sem capa no ombro,

Com o pouco que te tapa.

Então Arcanjos da Estrada

Despem-te e deixam-te nu.

Não tens vestes, não tens nada:

Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda caverna,

Os Deuses despem-te mais.

Teu corpo cessa, alma externa,

Mas vês que são teus iguais.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

A sombra das tuas vestes

Ficou entre nós na Sorte.

Não ‘stas morto, entre ciprestes.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Neófito, não há morte”.

(extraído de Cancioneiro / Fernando Pessoa, L&PM,2008, p. 126)

Bibliografia:

PLATÃO, Fédon, Diálogo Sobre a Alma e Morte de Sócrates, impresso no inverno de 2007, Editora Martin Claret Ltda, 151 páginas, São Paulo 2007.

PESSOA, Fernando, Cancioneiro, impresso no outono de 2008, L&PM Editores, 183 páginas, Porto Alegre 2008.

CASTELLANI, José, As Origens Históricas da Mística Maçônica, impresso em 2005, Editora Landmark, 158 páginas, São Paulo.

Um comentário:

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