O PROCESSO INICIAL PARA ANÁLISE DE
CONTEÚDO
DE UM GRUPO FOCAL EM AMBIENTE VIRTUAL DE
APRENDIZAGEM
SIEVERT, Genaldo
Luis[1] SIEVERT, G. L. - PUCPR.
Grupo de
trabalho: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas.
Agência
financiadora: não contou com financiamento.
Resumo
Este documento é um relato de uma
experiência vivenciada durante a participação na disciplina Seminário de
Pesquisa II: Análise de Dados Qualitativos com Recursos Tecnológicos, no
primeiro semestre de 2013, na PUCPR; tem por objetivo demonstrar a real
possibilidade de utilização de um software
como instrumento para análise de conteúdo de um Grupo Focal que está inserido
em um Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA. O Corpus analisado é um Fórum de um curso de formação continuada,
para profissionais que atuam com alunos em tratamento de saúde. São dados
empíricos obtidos a partir da extração dos conteúdos disponíveis no AVA. Neste
documento serão apresentadas as etapas iniciais necessárias ao preparo do
conteúdo a ser analisado, bem como a elaboração de uma metodologia específica
para o caso em questão. Serão descritas passo a passo as etapas necessárias,
iniciais, para a formação de um conjunto de códigos, categorizações e famílias,
elementos necessários para projetar as condições apropriadas à fase posterior:
a análise dos conteúdos encadeados com o suporte do software. O presente texto é um recorte de uma dissertação em
desenvolvimento e que encontra no software
Atlas.ti apoio técnico e organizacional que proporcionam ao pesquisador
condições especiais para ampliar a visão da análise. O resultado oriundo desta
organização inicial é a posterior facilidade para a elaboração de elementos
codificadores e categorizadores no software
Atlas.ti. A pesquisa é exploratória e qualitativa. O apoio teórico recaiu nos
seguintes autores: Strausse Corbin (2008), Stake (2011), Gray (2012), Flick
(2009), Lankshear e Knobel (2008), Gibbs (2009) e Bardin (2011), por ordem de
citação.
Palavras-chave: Análise de
conteúdo. Software. Grupo focal. Atlas.ti,
AVA.
Encontramo-nos
em um tempo em que a busca por elementos facilitadores para o dia a dia é uma
constante.
Percebemo-nos
frequentemente em busca da rapidez na comunicação com familiares, amigos e
colegas de trabalho, bem como, quando na condição de uma ação no âmbito
profissional nas relações na empresa nas suas mais diversas extensões. Não é
diferente quando estamos frente a frente com uma condição de estudo, seja
relacionada a uma pesquisa ou a uma simples condição de preparação para a
realização de uma avaliação.
A
Sociedade exige de todos nós uma nova postura, atitude ou posicionamento quanto
à utilização de novas tecnologias, como por exemplo, quanto ao uso de
equipamentos ou softwares. Na vida
acadêmica não é diferente quando nos deparamos em uma condição em que realizar
ou desenvolver uma pesquisa para graduação ou Stricto Sensu, se torna um grande desafio, e é neste momento que é
oportuno compreender a importância de adquirir novas habilidades, aqui neste
contexto compreendida como as condições necessárias para utilizar e aplicar as
facilidades que um software pode e
deve proporcionar.
Mas
cabe um alerta: um software por si só
não é suficiente para desenvolvimento de qualquer trabalho de pesquisa. Antes
de qualquer coisa é preciso compreender que a atitude do pesquisador é
fundamental para que a pesquisa venha a fluir, sabendo-se que poderá
encontrar-se como um rio, em alguns momentos com águas fluindo calmamente e em
harmonia com o ambiente ao seu redor e em outros, agitado e conturbado. Assim
elementos que o pesquisador não venha a considerar poderão estar contrariando os
objetivos iniciais, e interferindo no desenvolvimento do trabalho a ser
executado.
Nada
mais nada menos do que tomar uma atitude é o que está à nossa frente em todos
os momentos dos nossos dias. Não é diferente na condição de pesquisador, um
posicionamento, uma crítica, uma aceitação, uma contradição, uma explicação,
estas serão as nossas companhias na construção de uma análise ou no
desenvolvimento de uma teoria.
Desenvolvimento
Temos
uma consideração inicial importante a destacar: o que é a pesquisa qualitativa,
e encontramos amparo em Strauss e Corbin (2008, p. 24) com o seguinte conteúdo
para apoiar a nossa arguição:
Com o termo “pesquisa qualitativa”
queremos dizer qualquer tipo de pesquisa que produza resultados não alcançados
através de procedimentos estatísticos ou de outros meios de quantificação. Pode
se referir à pesquisa sobre a vida das pessoas, experiências vividas,
comportamentos, emoções e sentimentos, e também à pesquisa sobre funcionamento
organizacional, movimentos sociais, fenômenos culturais e interação entre
nações. Alguns dados podem ser quantificados, como no caso do censo ou de
informações históricas sobre pessoas ou objetos estudados, mas o grosso da
análise é interpretativa. [...] Ao falar sobre analise qualitativa,
referimo-nos não à quantificação de dados qualitativos, mas, sim, ao processo
não matemático de interpretação, feito com o objetivo de descobrir conceitos e
relações em um esquema explanatório teórico.
Eis, então, uma nota inicial que nos
posiciona quanto a importância deste tipo de pesquisa, da relevância para o
desenvolvimento de conteúdos resultantes de uma análise em qualquer campo da
pesquisa acadêmica.
Neste sentido Stake (2011, p. 46) contribui com a seguinte argumentação:
“A pesquisa qualitativa é algumas vezes, definida como pesquisa interpretativa. Todas as pesquisas
exigem interpretações e, na realidade, o comportamento humano exige
interpretações a cada minuto”.
Assim entendemos que para desenvolver a pesquisa
temos que elaborar um método para dar sustentação quanto ao aspecto como
orientar-se na organização da coleta de dados.
Desta forma elaboramos um roteiro que nos apoiará
enquanto fazemos a extração dos dados de um dos Fóruns.
Objetivando alcançar o sucesso
na intervenção nas salas virtuais de aprendizagem, cujo objetivo é a análise
dos aspectos mediáticos, interacionais e contributivos, uma metodologia de
trabalho específica para o caso em questão, foi elaborada.
Para sustentar o que
apresentamos a seguir, como os passos que orientaram o nosso trabalho, buscamos
em Strauss e Corbin, (2008, p. 17), que metodologia, métodos e codificação, são
respectivamente: [...] “uma forma de pensar sobre a realidade social e de
estudá-la. [...] um conjunto de procedimentos e técnicas para coletar e
analisar dados. [...] os processos analíticos por meio dos quais os dados são
divididos, conceitualizados e integrados para formar a teoria”.
Entenda-se que o contexto do
campo de análise é um AVA e para iniciar um procedimento específico elaboramos
uma sequencia para nos auxiliar em todas as etapas, inclusive, envolvendo os
procedimentos necessários para a utilização do software Atlas.ti, que, é utilizado para uma etapa seguinte da
exploração em estudo.
Este material foi extraído com
expansão de todos os diálogos realizados nos fóruns sob análise, da seguinte
maneira:
a) acesso ao espaço online;
b) acesso a sala virtual;
c) acesso ao Menu – Fórum;
d) expansão de todas as caixas
de diálogo;
e) seleção individual de cada participante
seguida da seleção do conteúdo produzido;
f) copiar e transferir para um
arquivo no Word o material
selecionado;
g) quando o conteúdo for extenso
a caixa de resposta do Fórum, é aberta para possibilitar a seleção e cópia do conteúdo;
h) o tempo de duração da extração deve ser
marcado, em horas para cada um dos fóruns;
i) no Word,
os conteúdos devem ser codificados, conforme sugerido a seguir, sendo
utilizadas as letras A, B, C, D e E, identificando cada sala virtual; para identificar
os alunos virtuais, as letras podem ser acrescidas de um número a partir do
número 1, em ordem crescente conforme o acesso de um novo aluno/professor nos
diálogos textuais iniciais com os números inseridos entre parênteses, A(1), B(3),
C(5), D(8) E(31)... E(41);
j) Para os professores/tutores
foi utilizada a letra P, seguida de um número a partir do número 1, em ordem
crescente por ordem de aparição durante o desenvolvimento dos diálogos textuais
com os números inseridos entre parentes, P(1), P(2)... P(10);
k) após a transferência para o Word, é importante efetuar uma leitura
total de todos os conteúdos; este procedimento deve ser repetido para tentar
evitar retrabalho;
l) após esta leitura deve ser
realizada uma formatação para melhorar a estética dos textos extraídos, mantendo-se
os conteúdos intactos;
m) após esta providencia inicia-se
o processo de codificação dos alunos virtuais;
n) feita a codificação elabora-se
uma planilha para onde os nomes completos dos alunos virtuais são transferidos
juntamente com a codificação;
o) durante o processo de
extração dos conteúdos há a ocorrência de participação, por vezes, de um mesmo
aluno virtual e isto ocasiona, em poucas situações, a codificação de um mesmo
participante com códigos diferentes;
p) quando isto ocorre é mantida
a primeira codificação e a posterior não é redirecionada a nenhum outro participante,
prosseguindo-se com a sequencia estipulada; a detecção desta eventual falha foi
possível ao utilizarmos para conferência dos códigos, o recurso de localização
do Word 2010 que apresenta uma caixa
lateral onde é possível localizar o que foi digitado Assim quando um nome é
digitado traz consigo o código a ele destinado, indicando, inclusive, as
páginas em que estava inserida a referência a ele destinada;
q) após a codificação todos os
nomes dos alunos/professores virtuais são excluídos, bem como os dos
professores/tutores;
r) após esta providencia uma
nova leitura é executada com o objetivo de identificar: apresentação dos alunos
virtuais, relato de uma experiência, citação de utilização de TIC em suas
atividades, desenvolvimento de diálogos entre alunos/professores e
professores/tutores/alunos, entre outras características próprias de um fórum;
s) os autores consultados para
apoiar e fundamentar o problema de pesquisa, metodologia e teoria ao longo do
desenvolvimento da dissertação, deve constar, sem exceções da lista de
referencia;
t) após a citação dos diálogos
dos participantes dos fóruns é efetuada uma verificação dos conteúdos
transferidos para o corpo de um capítulo, por exemplo, utilizando-se para isto
a ferramenta do Word, já citada
anteriormente, Figura 1;
Figura 1.
Verificando o número de vezes em que o participante aparece.
Fonte:
o aluno, 2013.
u) uma verificação importante
utilizando esta ferramenta foi no sentido de evitar repetição de citação de
conteúdo em momentos diferentes durante a construção da dissertação – para isto
foi construída uma tabela de controle, cabe salientar que esta localização
poderá sofrer alteração se ocorrer acréscimo de conteúdo e/ou correções a
executar durante o processo de desenvolvimento da dissertação, porém a
importância está em manter o controle nas entradas dos diálogos evitando a
saturação e/ou repetições.
v) o aspecto segurança na guarda
dos dados também deve ser levado em consideração e nesta pesquisa todos os
materiais foram adicionados aos recursos Dropbox
e Google Drive, como uma forma de
manter e assegurar, intactos, todos os arquivos, e em condições de
acessibilidade de qualquer ponto do planeta a partir de uma estação de
trabalho.
Percebemos, então, que estamos
em condições de prover a transferência dos arquivos para o Atlas.ti, nominando-os
de forma a encontra-los com facilidade e relacionando-os ao software em utilização, tendo realizando
anteriormente, a organização do diretório onde serão alocados os arquivos de
dados, salvos de preferência na extensão “.rtf”, para os arquivos oriundos do Word. Para isto devemos iniciar criando
um novo projeto, onde serão inseridos os arquivos de dados.
Na Figura 2, é possível observar
alguns elementos como: os arquivos inseridos para análise, uma janela
relacionada à codificação e, uma outra pertinente à inserção de memorandos que
são utilizados para anotações de conteúdos com significados relevantes para o
pesquisador utilizar quando da elaboração do relatório de análise, onde, a
abstração e a criatividade deverão permear o desenvolvimento da teoria. Nestes
memorandos poderão ser adicionados apoios como: citações e a identificação de
autores; uma observação pertinente a uma obra para posterior consulta; um
conteúdo de uma conceituação, entre outras alternativas.
Figura 2. Elementos iniciais no Atlas.ti.
Fonte:
o aluno, 2013.
Abaixo destacamos uma figura em
que colocamos em evidência a categorização que será utilizada para verificar as
inter-relações entre os diversos participantes nos Fóruns que serão analisados
na pesquisa.
Figura 3. Categorização.
Fonte o
aluno, 2013.
Figura 4. O Código “Apresentação” e suas correlações.
Fonte:
o aluno, 2013.
O que nos conduziu até o momento em que
as categorizações foram elaboradas foi um trabalho inicial, que ampara toda a
necessidade de organização para posterior evidenciação de uma metodologia que
facilitará os procedimentos quando da utilização do Atlas.ti.
Esta tarefa nada mais é do que a prática
de leituras e releituras dos textos extraídos do AVA.
Considerações
finais
A
pesquisa qualitativa tem vertentes históricas, às quais não faremos destaque
visto a nossa intenção de mostrar a ponta do iceberg, que não está submersa, ou seja, a nossa intenção de
verificar a importância de um processo metodológico primário para avançar com
mais propriedade e segurança quando da inserção dos dados no Atlas.ti e do
início da atividade de codificação propriamente dita, seguida da categorização
e do seu posterior refinamento. Stake, (2011, p.234), destaca que:
A pesquisa qualitativa depende de
planejamento, mas algo que você deve planejar especialmente bem é ser aberto a
novas formas de interpretar as coisas. Ser capaz de esquematizar tudo. Ser
capaz de discutir tudo. Trazer novas interpretações relacionadas ao
desenvolvimento econômico, politico e comunicacional talvez seja a melhor
resposta certa.
Postar-se
neste novo cenário como um pesquisador inserido no contexto não é uma condição
fácil. A desconfiança sobre a utilização de softwares
na pesquisa qualitativa tem sido observada por muitos autores, que, não deixam
de destacar a importância que estas novas facilidades podem proporcionar ao
campo das pesquisas a serem realizadas em ambientes virtuais ou não.
Autores
como Gray (2012), Flick (2009), Strauss e Corbin (2008) e Lankshear e Knobel
(2008), Gibbs (2009), apontam a relevância da utilização de softwares para apoiar os pesquisadores,
indicando em suas obras o processo evolutivo destas novas ferramentas
denominadas de SADQ – software de análise
de dados qualitativos.
De
fato são utilidades pertinentes ao tempo que vivenciamos e que exige dos
pesquisadores, rigor e criatividade.
Quando
começamos a elaboração dos passos iniciais não tínhamos a certeza das
facilidades que estes iriam proporcionar na etapa seguinte. Foi fundamental a
compreensão da necessidade de um itinerário textual para suportar a nossa
evolução até chegarmos ao ambiente específico do software.
A
análise de conteúdo também encontra apoio na obra da Bardin (2011), onde a
análise de conteúdo é notoriamente destacada ante as necessidades de
interpretação e criatividade dos pesquisadores. A autora evidencia também a evolução
histórica, partindo da pré-história e atingindo as tendências atuais onde a
possibilidade de análise pode ser efetuada e levada a termo em conversações, documentação,
dados e imagens, Bardin (2011, p. 19-31).
Percebemos
assim: a importância do rigor; a necessidade de elaboração de um roteiro
metodológico; a utilização conjunta de um ou mais software, visto que neste caso nos utilizamos, também, do Word 2010; a busca de autores diversos
para a compreensão da importância do ato do pesquisador em ambientes virtuais;
a necessidade de criar, abstrair, discutir com os autores dos textos, para
atingir um mínimo em um grande universo de pesquisa.
REFERÊNCIAS
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2009.
GIBBS, Graham. Análise de dados qualitativos. Porto Alegre: Artmed, 2009.
GRAY, David E. Pesquisa no mundo real. Porto Alegre: Penso, 2012.
LANKSHEAR, Colin. KNOBEL, Michele. Pesquisa pedagógica: do projeto à
implementação. Porto Alegre: Artmed, 2008.
STAKE, Robert E. Pesquisa qualitativa: estudando como as coisas funcionam. Porto
Alegre: Penso, 2011.
STRAUSS, Anselm. CORBIN, Juliet. Pesquisa qualitativa: técnicas e procedimentos para o desenvolvimento
de teoria fund
[1] Mestrando do Programa de Pós-graduação em Educação da Escola de
Educação e Humanidades-PUCPR, Administrador, Professor Universitário.
Especializações: Formação Pedagógica do Professor Universitário-PUCPR e
Formação Estratégica de Custos e Preços-PUCPR.
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