quarta-feira, 19 de julho de 2023

 

Da ideia do Panóptico à era da tecnologia

            A dominância como elemento de utilização do poder para controlar é claramente observável a partir do que fazemos e/ou aceitamos fazer por instinto ou estímulos diante do que utilizamos no presente e, a comunicação instantânea e intencional, para o bem ou para o mal, assume o comando de muitas ações ou intenções/interações no dia a dia.

            Assim, o termo Panóptico, remete à ideia de uma célula única onde centenas ou milhares de indivíduos podem ser controlados por um vigia ou controlador do espaço/tempo. Este termo ou ideia foi idealizado por Jeremy Bentham “como uma arquimetáfora do poder” (Bauman, 2001), e utilizado por Foucault (apud Bauman) para destacar a base do poder que se instalou com o advento da grande rede mundial. Estabelecida, já a partir da década de setenta do século XX e difundida e alçada à condição de poder de controle a partir de 1980. Desde então os projetos de dominação eletrônica foram estabelecidas sob o “manto” da evolução e facilidades da vida moderna, porém, sob as camadas inferiores, aquelas das entrelinhas, permanece a metáfora da caverna de Platão. A luta é não aceitar o que estabelecem para nós, mas sim, analisar, pontuar, detalhar, cada ideia ou parâmetro estabelecido, contestar quando necessário e se situar como elemento de equilíbrio.

            Parece que nos sentimos confortáveis para elogiar ou ofender quando da utilização de mídias. Se prestarmos atenção o fato pode ser facilmente identificado e, não é necessário o manto do anonimato, exceto nos casos da indústria das fake news.

            Não há mais necessidade de contato pessoal para que ordens sejam cumpridas; basta uma mensagem. Ordem executada, clique em “executado”. Resposta: “siga para a tarefa seguinte”.

            Não há mais tempo limite para encerrar as tarefas; ao período de descanso “dê uma olhada nos aplicativos e e-mails”.  

            No tempo que vivenciamos tudo é controlado eletronicamente, até mesmo um conflito bélico apresenta tal característica no sentido de evitar o confronto entre indivíduos.

            Na escala evolutiva da utilização de equipamentos de comunicação móvel crescem em uníssono os malefícios dos oportunistas, a dicotomia permanece.

            O maior ganho em escala é segundo Bauman (2001) “o do poder”: “A elite global contemporânea é formada no padrão do velho estilo dos “senhores ausentes”. Ela pode dominar sem se ocupar com a administração, gerenciamento, bem-estar, ou, ainda, com a missão de “levar a luz”, “reformar os modos”, elevar moralmente, “civilizar” e com cruzadas culturais. O engajamento ativo na vida das populações subordinadas não é mais necessário (ao contrário, é fortemente evitado como desnecessariamente custoso e ineficaz) — e, portanto, o “maior” não só não é mais o “melhor”, mas carece de significado racional. Agora é o menor, mais leve e mais portátil que significa melhoria e “progresso”. Mover-se leve, e não mais aferrar-se a coisas vistas como atraentes por sua confiabilidade e solidez — isto é, por seu peso, substancialidade e capacidade de resistência — é hoje recurso de poder”.

            Parece-nos que o longo prazo deixa de existir e se estabelece a cultura do “aqui e agora” do “é do meu interesse e do meu grupo”, os outros que lutem e se estabeleçam. A era das bravatas, da coragem midiática parece ter se estabelecido, “valentões midiáticos” surgem às centenas todos os dias; liberdade de expressão é um “direito meu” os outros que...

            Por natureza a rede informacional conhecida como internet não é estética, não é bela ou feia, apenas códigos sustentam o que os usuários estabelecem como suas manifestações. Fazer para o bem ou para o mal é uma escolha individual ou coletiva.

            O impacto causado pelo advento da Internet aponta para uma grande concentração do controle o que pode gerar uma ditatura digital, conforme pontua Harari: “Algoritmos de Big Data poderiam criar ditaduras digitais nas quais todo o poder se concentra nas mãos de uma minúscula elite enquanto a maior parte das pessoas sofre não em virtude de exploração, mas de algo muito pior: irrelevância”. (posição 108, 2021).

            Segundo previsões até 2025 8 bilhões de indivíduos estarão conectados utilizando apenas um celular, conforme afirmação de Schmidt e Cohen, 2013.

            Assim como Bauman e Harari, Schmidt e Cohen (2013) apontam em suas conclusões: “Em função de fatores como riqueza, acesso ou localização, a pequena minoria no topo ficará, quase sempre, protegida das consequências menos agradáveis da tecnologia. A classe média do mundo impulsionará grande parte da mudança, pois nela estarão os inventores, os líderes nas comunidades de imigrantes e os proprietários de pequenas e médias empresas. Esses são os primeiros cinco bilhões de pessoas já conectados. [...] Esse grupo conduzirá as revoluções e questionará os estados policiais; será também o segmento controlado pelos governos, assediado por multidões enfurecidas on-line e desorientado por guerras de marketing. Muitos dos desafios de seu mundo perdurarão mesmo com a disseminação da tecnologia”.

            Caberá, então, a cada um de nós de forma consciente analisar, filtrar e contestar quando oportuno e necessário com argumentos sólidos e compreensivos.  

Genaldo Luis Sievert (Sievert, G. L.)

M.´.M.´.  A.´.R.´.L.´.S.´. Aurora Maçônica 186 - GOP

Referências:           

Bauman, Zygmunt (2001). Modernidade líquida. Zahar. Edição do Kindle.

Harari, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. Companhia das Letras. Edição do Kindle.

Schmidt, Eric; Cohen, Jared. A nova era digital. Intrínseca. 2013. Edição do Kindle.

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