quarta-feira, 19 de julho de 2023

 

RITUAL, conceitos, características e códigos de interação a partir de estudos antropológicos.

            GENALDO LUIS SIEVERT - M.´.M.´.  Oriente de Curitiba, 21 de agosto de 2022.

A.´.R.´.L.´.S.´. AURORA MAÇÔNICA 186 – GRANDE ORIENTE DO PARANÁ

 

            O objetivo deste estudo é buscar e melhorar o entendimento das características do Ritual na maçonaria. Também pretendo demonstrar que o ritual na maçonaria se enquadra em apontamentos anotados na obra de Jack David Eller, Introdução à antropologia da religião, no qual apresenta e discute diversas características do ritual e a ritualização dos diversos eventos analisados ao longo do tempo em que a antropologia se situou como disciplina acadêmica.

            Para tanto “ritual” é apresentado como não sendo necessariamente um fenômeno religioso; eventos sociais os mais diversos apresentam características semelhantes: uma formatura universitária é um exemplo clássico “com pouco ou nenhum conteúdo ou significado religioso”.

Segundo Antony Wallace, apud Eller (2018) [...] “embora o ritual seja o fenômeno primário da religião, o processo ritual como tal não exige (grifo meu) nenhuma crença sobrenatural” (1996:233). Nesse sentido podemos afirmar que na Maçonaria essa característica não é observável, pois, a crença em Deus ou Grande Arquiteto do Universo como denominamos é condição primária e irrevogável para o indivíduo.

Para Victor Turner um ritual “é segmentado em “fases” ou “etapas” e em subunidades como “episódios”, “ações” e “gestos”. Ressalta Eller que “cada uma destas unidades e subunidades corresponde um arranjo específico de símbolos” os quais encontramos em abundância na ritualística maçônica. Assim o ritual por característica própria apresenta gêneros de ação, linguagem apropriada, contemplação, itens materiais e apoio em eventos diversos que marcaram a evolução humana. Eis que surge, então, a função, a origem e as variedades ritualísticas, as quais podem ser identificadas nos mais diversos ritos práticos.

Eller, 2018, nos apresenta algumas definições, as quais selecionou e, irei apresentar, para buscar melhorar o entendimento. Cabe esclarecer que Eller apresenta-os como “parte crucial da religião” e claramente como “da cultura em geral” das quais os diversos organizadores dos mais distintos ritos maçônicos se apropriaram no sentido de estabelecer as bases de conduta/reflexão/ação em cada um dos rituais ou graus estabelecidos.

Victor Turner: comportamento formal prescrito para ocasiões não destinadas à rotina tecnológica, que tem relação com a crença ou poderes místicos. O símbolo é a menor unidade do ritual (1967:19).

Stanley Tambiah: um sistema culturalmente construído de comunicação simbólica. É constituído por sequências padronizadas e ordenadas de palavras e atos, muitas vezes expressos através de múltiplos meios de comunicação, cujo conteúdo e arranjo se caracterizam em grau variado por formalidade (convencionalidade), estereotipia (rigidez), condensação (fusão) e redundância (repetição), (1979:119).

Antony Wallace: comunicação sem informação: ou seja, cada ritual é uma sequência particular de sinais que, uma vez anunciada, não permite nenhuma incerteza, nenhuma escolha, e, portanto, no sentido estatístico da teoria da informação, não transmite nenhuma informação de quem envia para quem recebe. É, tecnicamente, um sistema de ordem perfeita e qualquer desvio desta ordem é um erro (1966:233).

Thomas Barfield: [...] em seu sentido mais amplo, o ritual pode referir-se não a algum tipo particular de evento, mas ao aspecto expressivo de toda atividade humana. Na medida em que transmite mensagens a respeito do status social e cultural dos indivíduos, qualquer ação humana tem uma dimensão ritual. Neste sentido, até atos tão mundanos como cultivar campos e processar alimentos compartilha um aspecto ritual como o sacrifício e a missa (1997:410).

Edmund Leach: comportamento que faz parte de um sistema de sinalização e que serve para comunicar informação, não por causa de algum elo mecânico entre meios e fins, mas por causa de um código de comunicação (1966:403).

Observa-se, assim, que por mais distintos que sejam os conceitos apresentados, podemos identificar nos mesmos diversos elementos que remetem às ações e/ou práticas ritualísticas, as quais utilizamos quando da realização do nosso ritual nos seus graus simbólicos ou naqueles que conhecemos como filosóficos.

E, além dos conceitos alguns códigos de interação (CI) os quais não são exclusivos das religiões são identificados como elementos fixos, padronizados e comunicativos, a partir dos estudos, os quais remetem os iniciados à compreensão das ações e dos símbolos utilizados.

Segundo Eller, 2018, “[...] o comportamento cerimonial e ritual, é particularmente distinto em sua seriedade, precisão, estereotipia e detalhes. Parte desta elaboração garante que o ritual seja executado corretamente, mas outra parte é autor referencial, ou seja, uma maneira de demarcar, enfatizar, salientar o fato do comportamento de código”.

O código de interação é a ação em si executada com finalidade específica, é “algo especial que exige uma resposta” igualmente formal e específica, Eller, 2018.

Assim, o comportamento ritual deve ser comunicativo, compreensivo. O que a ritualização em geral faz “é não só estabelecer comunicação entre os participantes, mas também comunicação a respeito deles. [...] se a ação é feita sempre da mesma maneira, não há nenhuma confusão acerca de sua intenção”. (Eller, 2018).

No mesmo sentido, Eller (2018:265), enfatiza que: “[...] o comportamento ritual não é um tudo-ou-nada, mas se alinha num espectro, que vai do individual/compulsivo ao casual, à etiqueta/diplomacia, ao religioso normal, ao litúrgico”.

Os CI constituem o primeiro nível do comportamento, a partir do simples aperto de mão os humanos apresentam diversos e complexos rituais os quais demonstram a evolução, estabelecem critérios organizacionais paras as mais diversas situações desde a mais simples às mais elaboradas, as quais são novamente identificadas nos mais variados graus do ensinamento maçônico.

Na maçonaria encontramos devido ao seu aspecto ritualístico a liturgia a qual estabelece a formalidade de cada ato ou comunicação que deve ser executado corretamente. A liturgia nos permite seguir um padrão, diversas vezes a mesma coisa; já o ritual tem por função o preparo de um ou mais indivíduos “executar uma ação com a máxima eficiência” Anthony Wallace apud Eller (2018).

Assim, acredito lhes ter apresentado de forma sucinta esclarecimento que irão enriquecer nosso entendimento sobre ações básicas pertinentes à prática e esmero no desenvolvimento da ritualística maçônica seja nos seus graus simbólicos seja nos graus entendidos como filosóficos.


FONTE DE INSPIRAÇÃO

Eller, Jack David. Introdução à antropologia da religião / Jack David Eller; tradução de Gentil Avelino Titton. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.Editora Vozes. Edição do Kindle.

 

LEITURA COMPLEMENTAR

Algumas pessoas podem dizer que o antigo ritual da Ordem é imperfeito e que exige emendas. Outros podem pensar que as cerimônias são simples demais, e desejam aumentá-las; outro, que elas são muito complicadas e desejam simplificá-las, e ainda alguém pode estar descontente com a linguagem antiquada, outro, com o caráter das tradições, ou com outra coisa. Mas a regra é imperativa e absoluta, que nenhuma alteração pode ou deve ser feita para agradar o gosto individual.

Albert G. Mackey. Os Princípios das Leis Maçônicas – Volume I (Locais do Kindle 654-657). Edição do Kindle.

Nenhum comentário:

Postar um comentário