RITUAL, conceitos, características e códigos de interação a
partir de estudos antropológicos.
GENALDO LUIS SIEVERT - M.´.M.´.
Oriente de Curitiba, 21
de agosto de 2022.
A.´.R.´.L.´.S.´. AURORA MAÇÔNICA 186 – GRANDE ORIENTE DO PARANÁ
O objetivo deste estudo é buscar e
melhorar o entendimento das características do Ritual na maçonaria. Também
pretendo demonstrar que o ritual na maçonaria se enquadra em apontamentos
anotados na obra de Jack David Eller, Introdução à antropologia da religião, no
qual apresenta e discute diversas características do ritual e a ritualização
dos diversos eventos analisados ao longo do tempo em que a antropologia se
situou como disciplina acadêmica.
Para tanto “ritual” é apresentado
como não sendo necessariamente um fenômeno religioso; eventos sociais os mais
diversos apresentam características semelhantes: uma formatura universitária é
um exemplo clássico “com pouco ou nenhum conteúdo ou significado religioso”.
Segundo Antony Wallace, apud Eller (2018) [...]
“embora o ritual seja o fenômeno primário da religião, o processo ritual como
tal não exige (grifo meu) nenhuma crença sobrenatural” (1996:233). Nesse
sentido podemos afirmar que na Maçonaria essa característica não é observável,
pois, a crença em Deus ou Grande Arquiteto do Universo como denominamos é
condição primária e irrevogável para o indivíduo.
Para Victor Turner um ritual “é segmentado em
“fases” ou “etapas” e em subunidades como “episódios”, “ações” e “gestos”.
Ressalta Eller que “cada uma destas unidades e subunidades corresponde um
arranjo específico de símbolos” os quais encontramos em abundância na
ritualística maçônica. Assim o ritual por característica própria apresenta
gêneros de ação, linguagem apropriada, contemplação, itens materiais e apoio em
eventos diversos que marcaram a evolução humana. Eis que surge, então, a
função, a origem e as variedades ritualísticas, as quais podem ser
identificadas nos mais diversos ritos práticos.
Eller, 2018, nos apresenta algumas definições,
as quais selecionou e, irei apresentar, para buscar melhorar o entendimento.
Cabe esclarecer que Eller apresenta-os como “parte crucial da religião” e
claramente como “da cultura em geral” das quais os diversos organizadores dos
mais distintos ritos maçônicos se apropriaram no sentido de estabelecer as
bases de conduta/reflexão/ação em cada um dos rituais ou graus estabelecidos.
Victor Turner: comportamento formal prescrito
para ocasiões não destinadas à rotina tecnológica, que tem relação com a crença
ou poderes místicos. O símbolo é a menor unidade do ritual (1967:19).
Stanley Tambiah: um sistema culturalmente
construído de comunicação simbólica. É constituído por sequências padronizadas
e ordenadas de palavras e atos, muitas vezes expressos através de múltiplos
meios de comunicação, cujo conteúdo e arranjo se caracterizam em grau variado
por formalidade (convencionalidade), estereotipia (rigidez), condensação
(fusão) e redundância (repetição), (1979:119).
Antony Wallace: comunicação sem informação: ou
seja, cada ritual é uma sequência particular de sinais que, uma vez anunciada,
não permite nenhuma incerteza, nenhuma escolha, e, portanto, no sentido
estatístico da teoria da informação, não transmite nenhuma informação de quem
envia para quem recebe. É, tecnicamente, um sistema de ordem perfeita e
qualquer desvio desta ordem é um erro (1966:233).
Thomas Barfield: [...] em seu sentido mais
amplo, o ritual pode referir-se não a algum tipo particular de evento, mas ao
aspecto expressivo de toda atividade humana. Na medida em que transmite
mensagens a respeito do status social e cultural dos indivíduos, qualquer ação
humana tem uma dimensão ritual. Neste sentido, até atos tão mundanos como
cultivar campos e processar alimentos compartilha um aspecto ritual como o sacrifício
e a missa (1997:410).
Edmund Leach: comportamento que faz parte de um
sistema de sinalização e que serve para comunicar informação, não por causa de
algum elo mecânico entre meios e fins, mas por causa de um código de
comunicação (1966:403).
Observa-se, assim, que por mais distintos que
sejam os conceitos apresentados, podemos identificar nos mesmos diversos
elementos que remetem às ações e/ou práticas ritualísticas, as quais utilizamos
quando da realização do nosso ritual nos seus graus simbólicos ou naqueles que
conhecemos como filosóficos.
E, além dos conceitos alguns códigos de
interação (CI) os quais não são exclusivos das religiões são identificados como
elementos fixos, padronizados e comunicativos, a partir dos estudos, os quais
remetem os iniciados à compreensão das ações e dos símbolos utilizados.
Segundo Eller, 2018, “[...] o comportamento
cerimonial e ritual, é particularmente distinto em sua seriedade, precisão,
estereotipia e detalhes. Parte desta elaboração garante que o ritual seja
executado corretamente, mas outra parte é autor referencial, ou seja, uma
maneira de demarcar, enfatizar, salientar o fato do comportamento de código”.
O código de interação é a ação em si executada
com finalidade específica, é “algo especial que exige uma resposta” igualmente
formal e específica, Eller, 2018.
Assim, o comportamento ritual deve ser
comunicativo, compreensivo. O que a ritualização em geral faz “é não só
estabelecer comunicação entre os participantes, mas também comunicação a
respeito deles. [...] se a ação é feita sempre da mesma maneira, não há nenhuma
confusão acerca de sua intenção”. (Eller, 2018).
No mesmo sentido, Eller (2018:265), enfatiza
que: “[...] o comportamento ritual não é um tudo-ou-nada, mas se alinha num
espectro, que vai do individual/compulsivo ao casual, à etiqueta/diplomacia, ao
religioso normal, ao litúrgico”.
Os CI constituem o primeiro nível do
comportamento, a partir do simples aperto de mão os humanos apresentam diversos
e complexos rituais os quais demonstram a evolução, estabelecem critérios
organizacionais paras as mais diversas situações desde a mais simples às mais
elaboradas, as quais são novamente identificadas nos mais variados graus do
ensinamento maçônico.
Na maçonaria encontramos devido ao seu aspecto
ritualístico a liturgia a qual estabelece a formalidade de cada ato ou
comunicação que deve ser executado corretamente. A liturgia nos permite seguir
um padrão, diversas vezes a mesma coisa; já o ritual tem por função o preparo
de um ou mais indivíduos “executar uma ação com a máxima eficiência” Anthony
Wallace apud Eller (2018).
Assim, acredito lhes ter apresentado de forma sucinta esclarecimento que irão enriquecer nosso entendimento sobre ações básicas pertinentes à prática e esmero no desenvolvimento da ritualística maçônica seja nos seus graus simbólicos seja nos graus entendidos como filosóficos.
FONTE DE INSPIRAÇÃO
Eller,
Jack David. Introdução à antropologia da religião / Jack David Eller; tradução
de Gentil Avelino Titton. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.Editora Vozes. Edição
do Kindle.
LEITURA COMPLEMENTAR
Algumas
pessoas podem dizer que o antigo ritual da Ordem é imperfeito e que exige
emendas. Outros podem pensar que as cerimônias são simples demais, e desejam
aumentá-las; outro, que elas são muito complicadas e desejam simplificá-las, e
ainda alguém pode estar descontente com a linguagem antiquada, outro, com o
caráter das tradições, ou com outra coisa. Mas a regra é imperativa e absoluta,
que nenhuma alteração pode ou deve ser feita para agradar o gosto individual.
Albert G. Mackey. Os Princípios das Leis Maçônicas – Volume I (Locais do Kindle
654-657). Edição do Kindle.
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