quarta-feira, 19 de julho de 2023

 

O RITO DO DESCALÇAMENTO, Albert G. Mackey.

Texto anotado por Genaldo Luis Sievert, membro da ARLS Aurora Maçônica 186, GOP.

O Rito de Descalçamento, ou despimento dos pés sobre um chão sagrado que se aproxima, é derivado da palavra latina discalceare, retirar o sapato de uma pessoa. Seu uso possui o prestígio da antiguidade e da universalidade em seu favor. Embora não prevalecendo de forma geral, seu significado simbólico foi bem compreendido na época de Moisés, nós aprendemos daquela passagem do Êxodo onde o anjo do Senhor, em um arbusto flamejante, jante, exclama ao patriarca: "Aproxime-se; tire seus sapatos dos pés, pois o lugar em que pisas é chão sagrado".' Clarke acredita que é por causa desse mandamento que as nações orientais adquiriram o costume me de realizar seu atos religiosos de adoração com os pés descalços. Mas é muito mais provável que a cerimônia fosse usada muito antes da circunstância do arbusto flamejante, e que os legisladores judeus imediatamente reconheceram-no como um símbolo de reverência. O Bispo Patrick compartilha dessa opinião, considerando que o costume foi derivado dos antigos patriarcas e transmitido por uma tradição geral às épocas sucessoras. Provas abundantes podem ser fornecidas pelos antigos autores da existência do costume entre todas as nações, tanto judaicas como as Gentis. Poucas entre elas, principalmente as reunidas pelo Dr. Mede, são curiosas e interessantes. A instrução de Pitágoras aos seus discípulos foi a seguinte: "Ofereça sacrifício e adoração descalço." Justin Martyr diz que aqueles que adoravam santuários e templos gentis eram orientados por seus sacerdotes a retirar os sapatos. Drúsio, em suas anotações no Livro de Josué, diz que entre a maioria das nações orientais era uma obrigação religiosa pisar o chão do templo com os pés descalços. Maimônides, o grande estudioso da lei judaica, afirma que "não era lícito a um homem vir à montanha da casa de Deus com sapatos nos pés, com seu cajado, em suas vestimentas de trabalho ou mesmo com poeira nos pés". Rabbi Salomão, comentando sobre o mandamento em Levítico XIX. 30: "Vós deveis reverência em meu santuário", faz a mesma observação com relação a esse costume. Sobre esse assunto, o Dr. Oliver observa: "O ato de ir com os pés descalços foi sempre considerado um sinal de humildade e reverência; e os sacerdotes, no templo de adoração, sempre conduziram os sacramentos com os pés descalçados, embora fossem frequentemente prejudiciais à saúde deles."Mede cita Zago Zaba, um bispo etíope, que foi embaixador de Davi, Rei da Abissínia, a João III, de Portugal, dizendo: "Não podemos entrar na igreja, exceto descalços. “Os maometanos, quando estavam para realizar suas devoções, sempre deixavam seus chinelos à porta do mosteiro. Os druidas tinham o mesmo costume, quando queriam celebrar seus antigos ritos; e acredita-se que os antigos peruanos sempre deixavam seus sapatos no pórtico quando entravam no templo magnífico consagrado à adoração do sol. Adam Clarke afirma que o costume de adoração descalça da divindade era tão comum entre as nações da antiguidade, que credita a esse fator como uma das 13 provas de que a raça humana toda foi derivada de uma única família. Pode-se extrair a seguinte teoria: os sapatos ou as sandálias eram usados em ocasiões ordinárias como uma proteção às sujeiras do chão. Para continuar a usá-los, então, em um local consagrado, seria uma insinuação tácita que o solo fosse igualmente poluído e capaz de produzir sujeira. Mas, como o verdadeiro caráter de um lugar sagrado e consagrado exclui a ideia de qualquer tipo de sujeira ou impureza, o reconhecimento de que este foi o espírito transmitido, simbolicamente, ao se despir os pés de todas aquelas proteções da poluição e impurezas que seriam necessárias em locais não consagrados. Então, nos tempos modernos, nós balançamos a cabeça para expressar o sentimento de estima e respeito. Antigamente, quando havia mais violência para ser temida do que agora, o elmo, ou capacete, possuía uma ampla proteção que podia resistir a qualquer golpe repentino de um inimigo inesperado. Mas não podemos temer violência de alguém que estimamos ou respeitamos; então, despojar a cabeça dessa proteção habitual, é dar uma prova de nossa confiança ilimitada na pessoa a quem o gesto é feito. O Rito de Descalçamento é, portanto, um símbolo de reverência. Isto significa, na linguagem do simbolismo, que o local que está para ser adentrado é de forma humilde e reverencial consagrado para algum propósito divino. Agora, como em tudo o que foi dito, o maçom inteligente irá imediatamente relacionar a sua aplicação ao terceiro grau. De todos os graus da Maçonaria, este é de longe o mais importante e sublime. A lição solene que ele ensina, a cena sagrada que representa e as cerimônias comoventes que nele são conduzidas, são todas calculadas para inspirar a mente com sentimentos de respeito e reverência. No mais sagrado de todos os templos sagrados, quando a arca da aliança foi depositada em seu local apropriado, e a Shekinah estava flutuando sobre ela, o Sumo Sacerdote sozinho, e em um único dia no ano todo, pôde, depois da mais cuidadosa purificação, entrar de pés descalços e pronunciar com veneração temerosa, o tetragramaton ou palavra omnífica. Na Loja do Mestre Maçom - o santo dos santos dos templos maçônicos, onde as verdades solenes da morte e imortalidade são transmitidas -, o aspirante, ao entrar, deve purificar seu coração de toda contaminação, e lembrar, com o devido senso de sua aplicação simbólica, daquelas palavras que certa vez irromperam nos ouvidos atônitos do velho patriarca: "Retire seus sapatos dos pés, pois o local em que está é solo sagrado."

Albert G. Mackey. O Simbolismo da Maçonaria – Volume 1 (Locais do Kindle 850-858). Edição do Kindle.

 

 

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