O RITO
DO DESCALÇAMENTO, Albert G. Mackey.
Texto
anotado por Genaldo Luis Sievert, membro da A∴R∴L∴S∴ Aurora Maçônica 186, GOP.
O Rito de Descalçamento, ou
despimento dos pés sobre um chão sagrado que se aproxima, é derivado da palavra
latina discalceare, retirar o sapato de uma pessoa. Seu uso possui o prestígio
da antiguidade e da universalidade em seu favor. Embora não prevalecendo de
forma geral, seu significado simbólico foi bem compreendido na época de Moisés,
nós aprendemos daquela passagem do Êxodo onde o anjo do Senhor, em um arbusto
flamejante, jante, exclama ao patriarca: "Aproxime-se; tire seus sapatos
dos pés, pois o lugar em que pisas é chão sagrado".' Clarke acredita que é
por causa desse mandamento que as nações orientais adquiriram o costume me de
realizar seu atos religiosos de adoração com os pés descalços. Mas é muito mais
provável que a cerimônia fosse usada muito antes da circunstância do arbusto flamejante,
e que os legisladores judeus imediatamente reconheceram-no como um símbolo de
reverência. O Bispo Patrick compartilha dessa opinião, considerando que o
costume foi derivado dos antigos patriarcas e transmitido por uma tradição
geral às épocas sucessoras. Provas abundantes podem ser fornecidas pelos
antigos autores da existência do costume entre todas as nações, tanto judaicas
como as Gentis. Poucas entre elas, principalmente as reunidas pelo Dr. Mede,
são curiosas e interessantes. A instrução de Pitágoras aos seus discípulos foi
a seguinte: "Ofereça sacrifício e adoração descalço." Justin Martyr
diz que aqueles que adoravam santuários e templos gentis eram orientados por
seus sacerdotes a retirar os sapatos. Drúsio, em suas anotações no Livro de Josué,
diz que entre a maioria das nações orientais era uma obrigação religiosa pisar
o chão do templo com os pés descalços. Maimônides, o grande estudioso da lei
judaica, afirma que "não era lícito a um homem vir à montanha da casa de
Deus com sapatos nos pés, com seu cajado, em suas vestimentas de trabalho ou
mesmo com poeira nos pés". Rabbi Salomão, comentando sobre o mandamento em
Levítico XIX. 30: "Vós deveis reverência em meu santuário", faz a
mesma observação com relação a esse costume. Sobre esse assunto, o Dr. Oliver
observa: "O ato de ir com os pés descalços foi sempre considerado um sinal
de humildade e reverência; e os sacerdotes, no templo de adoração, sempre
conduziram os sacramentos com os pés descalçados, embora fossem frequentemente prejudiciais
à saúde deles."Mede cita Zago Zaba, um bispo etíope, que foi embaixador de
Davi, Rei da Abissínia, a João III, de Portugal, dizendo: "Não podemos entrar
na igreja, exceto descalços. “Os maometanos, quando estavam para realizar suas
devoções, sempre deixavam seus chinelos à porta do mosteiro. Os druidas tinham
o mesmo costume, quando queriam celebrar seus antigos ritos; e acredita-se que
os antigos peruanos sempre deixavam seus sapatos no pórtico quando entravam no
templo magnífico consagrado à adoração do sol. Adam Clarke afirma que o costume
de adoração descalça da divindade era tão comum entre as nações da antiguidade,
que credita a esse fator como uma das 13 provas de que a raça humana toda foi
derivada de uma única família. Pode-se extrair a seguinte teoria: os sapatos ou
as sandálias eram usados em ocasiões ordinárias como uma proteção às sujeiras
do chão. Para continuar a usá-los, então, em um local consagrado, seria uma
insinuação tácita que o solo fosse igualmente poluído e capaz de produzir
sujeira. Mas, como o verdadeiro caráter de um lugar sagrado e consagrado exclui
a ideia de qualquer tipo de sujeira ou impureza, o reconhecimento de que este
foi o espírito transmitido, simbolicamente, ao se despir os pés de todas
aquelas proteções da poluição e impurezas que seriam necessárias em locais não
consagrados. Então, nos tempos modernos, nós balançamos a cabeça para expressar
o sentimento de estima e respeito. Antigamente, quando havia mais violência
para ser temida do que agora, o elmo, ou capacete, possuía uma ampla proteção
que podia resistir a qualquer golpe repentino de um inimigo inesperado. Mas não
podemos temer violência de alguém que estimamos ou respeitamos; então, despojar
a cabeça dessa proteção habitual, é dar uma prova de nossa confiança ilimitada
na pessoa a quem o gesto é feito. O Rito de Descalçamento é, portanto, um
símbolo de reverência. Isto significa, na linguagem do simbolismo, que o local
que está para ser adentrado é de forma humilde e reverencial consagrado para
algum propósito divino. Agora, como em tudo o que foi dito, o maçom inteligente
irá imediatamente relacionar a sua aplicação ao terceiro grau. De todos os
graus da Maçonaria, este é de longe o mais importante e sublime. A lição solene
que ele ensina, a cena sagrada que representa e as cerimônias comoventes que
nele são conduzidas, são todas calculadas para inspirar a mente com sentimentos
de respeito e reverência. No mais sagrado de todos os templos sagrados, quando
a arca da aliança foi depositada em seu local apropriado, e a Shekinah estava
flutuando sobre ela, o Sumo Sacerdote sozinho, e em um único dia no ano todo,
pôde, depois da mais cuidadosa purificação, entrar de pés descalços e
pronunciar com veneração temerosa, o tetragramaton ou palavra omnífica. Na Loja
do Mestre Maçom - o santo dos santos dos templos maçônicos, onde as verdades
solenes da morte e imortalidade são transmitidas -, o aspirante, ao entrar,
deve purificar seu coração de toda contaminação, e lembrar, com o devido senso
de sua aplicação simbólica, daquelas palavras que certa vez irromperam nos
ouvidos atônitos do velho patriarca: "Retire seus sapatos dos pés, pois o
local em que está é solo sagrado."
Albert G. Mackey. O Simbolismo da Maçonaria – Volume
1 (Locais do Kindle 850-858). Edição do Kindle.
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