quarta-feira, 19 de julho de 2023

 

Da ideia do Panóptico à era da tecnologia

            A dominância como elemento de utilização do poder para controlar é claramente observável a partir do que fazemos e/ou aceitamos fazer por instinto ou estímulos diante do que utilizamos no presente e, a comunicação instantânea e intencional, para o bem ou para o mal, assume o comando de muitas ações ou intenções/interações no dia a dia.

            Assim, o termo Panóptico, remete à ideia de uma célula única onde centenas ou milhares de indivíduos podem ser controlados por um vigia ou controlador do espaço/tempo. Este termo ou ideia foi idealizado por Jeremy Bentham “como uma arquimetáfora do poder” (Bauman, 2001), e utilizado por Foucault (apud Bauman) para destacar a base do poder que se instalou com o advento da grande rede mundial. Estabelecida, já a partir da década de setenta do século XX e difundida e alçada à condição de poder de controle a partir de 1980. Desde então os projetos de dominação eletrônica foram estabelecidas sob o “manto” da evolução e facilidades da vida moderna, porém, sob as camadas inferiores, aquelas das entrelinhas, permanece a metáfora da caverna de Platão. A luta é não aceitar o que estabelecem para nós, mas sim, analisar, pontuar, detalhar, cada ideia ou parâmetro estabelecido, contestar quando necessário e se situar como elemento de equilíbrio.

            Parece que nos sentimos confortáveis para elogiar ou ofender quando da utilização de mídias. Se prestarmos atenção o fato pode ser facilmente identificado e, não é necessário o manto do anonimato, exceto nos casos da indústria das fake news.

            Não há mais necessidade de contato pessoal para que ordens sejam cumpridas; basta uma mensagem. Ordem executada, clique em “executado”. Resposta: “siga para a tarefa seguinte”.

            Não há mais tempo limite para encerrar as tarefas; ao período de descanso “dê uma olhada nos aplicativos e e-mails”.  

            No tempo que vivenciamos tudo é controlado eletronicamente, até mesmo um conflito bélico apresenta tal característica no sentido de evitar o confronto entre indivíduos.

            Na escala evolutiva da utilização de equipamentos de comunicação móvel crescem em uníssono os malefícios dos oportunistas, a dicotomia permanece.

            O maior ganho em escala é segundo Bauman (2001) “o do poder”: “A elite global contemporânea é formada no padrão do velho estilo dos “senhores ausentes”. Ela pode dominar sem se ocupar com a administração, gerenciamento, bem-estar, ou, ainda, com a missão de “levar a luz”, “reformar os modos”, elevar moralmente, “civilizar” e com cruzadas culturais. O engajamento ativo na vida das populações subordinadas não é mais necessário (ao contrário, é fortemente evitado como desnecessariamente custoso e ineficaz) — e, portanto, o “maior” não só não é mais o “melhor”, mas carece de significado racional. Agora é o menor, mais leve e mais portátil que significa melhoria e “progresso”. Mover-se leve, e não mais aferrar-se a coisas vistas como atraentes por sua confiabilidade e solidez — isto é, por seu peso, substancialidade e capacidade de resistência — é hoje recurso de poder”.

            Parece-nos que o longo prazo deixa de existir e se estabelece a cultura do “aqui e agora” do “é do meu interesse e do meu grupo”, os outros que lutem e se estabeleçam. A era das bravatas, da coragem midiática parece ter se estabelecido, “valentões midiáticos” surgem às centenas todos os dias; liberdade de expressão é um “direito meu” os outros que...

            Por natureza a rede informacional conhecida como internet não é estética, não é bela ou feia, apenas códigos sustentam o que os usuários estabelecem como suas manifestações. Fazer para o bem ou para o mal é uma escolha individual ou coletiva.

            O impacto causado pelo advento da Internet aponta para uma grande concentração do controle o que pode gerar uma ditatura digital, conforme pontua Harari: “Algoritmos de Big Data poderiam criar ditaduras digitais nas quais todo o poder se concentra nas mãos de uma minúscula elite enquanto a maior parte das pessoas sofre não em virtude de exploração, mas de algo muito pior: irrelevância”. (posição 108, 2021).

            Segundo previsões até 2025 8 bilhões de indivíduos estarão conectados utilizando apenas um celular, conforme afirmação de Schmidt e Cohen, 2013.

            Assim como Bauman e Harari, Schmidt e Cohen (2013) apontam em suas conclusões: “Em função de fatores como riqueza, acesso ou localização, a pequena minoria no topo ficará, quase sempre, protegida das consequências menos agradáveis da tecnologia. A classe média do mundo impulsionará grande parte da mudança, pois nela estarão os inventores, os líderes nas comunidades de imigrantes e os proprietários de pequenas e médias empresas. Esses são os primeiros cinco bilhões de pessoas já conectados. [...] Esse grupo conduzirá as revoluções e questionará os estados policiais; será também o segmento controlado pelos governos, assediado por multidões enfurecidas on-line e desorientado por guerras de marketing. Muitos dos desafios de seu mundo perdurarão mesmo com a disseminação da tecnologia”.

            Caberá, então, a cada um de nós de forma consciente analisar, filtrar e contestar quando oportuno e necessário com argumentos sólidos e compreensivos.  

Genaldo Luis Sievert (Sievert, G. L.)

M.´.M.´.  A.´.R.´.L.´.S.´. Aurora Maçônica 186 - GOP

Referências:           

Bauman, Zygmunt (2001). Modernidade líquida. Zahar. Edição do Kindle.

Harari, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. Companhia das Letras. Edição do Kindle.

Schmidt, Eric; Cohen, Jared. A nova era digital. Intrínseca. 2013. Edição do Kindle.

 

A filosofia Perene: uma interpretação dos grandes místicos do oriente e do ocidente

 

A filosofia, ou amor pelos saberes, é o caminho que leva a um dos mais vastos campos do pensamento humano, seja no aspecto da pesquisa quanto no da evolução do campo do conhecimento no que diz respeito a tudo o que nos envolve física e espiritualmente, e assim, as mais diversas vertentes ou propostas são apresentadas por estudiosos desde os tempos mais remotos. O título apresentado é fruto de estudo, reflexão e discussão por Aldous Huxley, primeira edição de 2010. Após a leitura estou compilando uma série de excertos, os quais dedico para reflexão dos irmãos e, recomendo a leitura. A obra está disponível por e-book e brochura e, a leitura é muito mais do que um prêmio, é ao final uma conquista de saberes distintos e que enriquecem àqueles que possuem amor pelo conhecimento. Afinal, o passado e o presente cujos conhecimentos não podem ser corroídos, pavimentam o nosso futuro.  

Vejamos, então, alguns dos trechos selecionados:

O conhecimento é uma função do ser. Quando há uma mudança no ser que conhece, há outra mudança correspondente na natureza e na quantidade do que se conhece.

Aquilo que sabemos depende também daquilo que, como seres morais, nós mesmos escolhemos. “A prática”, nas palavras de William James, “pode mudar nosso horizonte teórico, e isso se dá de forma dúplice: pode levar a novos mundos e assegurar novos poderes. O conhecimento que poderíamos nunca obter, ao permanecermos como somos, pode se tornar alcançável em consequência de poderes maiores e de uma vida mais nobre, que podemos conquistar moralmente.”

“O astrolábio dos mistérios de Deus é o amor”.

A certeza autovalidada da consciência direta não pode, na própria natureza das coisas, ser conquistada senão por aqueles equipados com o “astrolábio moral” dos mistérios de Deus. Para quem não for um sábio ou santo, o melhor que se pode fazer, no campo da metafísica, é estudar a obra daqueles que o foram e que, na medida em que modificaram seu modo meramente humano de ser, foram capazes de obter um tipo e uma quantidade mais do que meramente humanos de conhecimento.

Ao se estudar a Filosofia Perene, podemos começar ou por baixo, com a prática e a moralidade; ou por cima, com uma consideração das verdades metafísicas; ou, enfim, pelo meio, no ponto focal onde a mente e a matéria, a ação e o pensamento, convergem na psicologia humana. O portão inferior é o preferido pelos professores estritamente práticos — homens que, como Gautama Buda, não veem utilidade na especulação e cuja principal preocupação é apagar nos corações humanos as chamas medonhas da ganância, do ressentimento e das paixões mundanas. Pelo portão superior seguem aqueles cuja vocação é pensar e especular — os filósofos e teólogos natos. O portão médio dá entrada aos expoentes do que foi chamado de “religião espiritual” — os contemplativos devotos da Índia, os sufis do islã, os místicos católicos da Baixa Idade Média e, na tradição protestante, homens como Denk, Franck e Castellio, como Everard e John Smith, os primeiros quacres e William Law. É por essa porta central, e apenas porque é central, que faremos nossa entrada pelo assunto deste livro. A psicologia da Filosofia Perene tem sua fonte na metafísica e deságua logicamente em um modo de vida e sistema ético característicos. Partindo desse ponto médio da doutrina, é fácil para a mente seguir em qualquer uma das outras direções.

O ser humano completamente iluminado sabe, com a Lei, que Deus “está presente na parte mais profunda e mais central de sua própria alma”; mas ele também é, ao mesmo tempo, um daqueles que, nas palavras de Plotino, “enxergam todas as coisas, não no processo do devir, mas em Ser, e se enxergam no outro. Cada ser contém em si todo o mundo inteligível. Portanto, Tudo está em toda parte. O cada está no Todo, e o Todo, no cada. O homem como é agora deixou de ser o Todo. Mas, quando deixa de ser um indivíduo, ele se eleva novamente e penetra o mundo inteiro”.

Não perguntes se o Princípio está nisso ou naquilo; ele está em todos os seres. É por esse motivo que lhe aplicamos os epítetos de supremo, universal, total […] Ele ordena que todas as coisas sejam limitadas, mas ele próprio é ilimitado, infinito. No tocante à manifestação, o Princípio causa a sucessão de suas fases, mas não é essa sucessão. Ele é o autor das causas e efeitos, mas não é as causas e efeitos. É o autor das condensações e dissipações (morte e nascimento, mudanças de estado), mas não é, ele próprio, as condensações e dissipações. Tudo procede dele e está sob sua influência. Ele está em todas as coisas, mas não é idêntico aos seres, pois não é nem diferenciado nem limitado.

Quem é Deus? Não posso pensar em nenhuma resposta melhor do que: Ele que é. Nada é mais adequado a essa eternidade que é Deus. Se você chamar a Deus de bom, ou grande, ou bendito, ou sábio, ou qualquer outra coisa do gênero, está incluído nessas palavras, a saber: Ele é. São Bernardo.

O destino final do ser humano, o propósito de sua existência, é amar, saber e se unir à Divindade imanente e transcendente. E essa identificação do si-mesmo com o não si-mesmo espiritual só pode ser conquistada ao se “morrer para” o individualismo e se viver para o espírito.

GENALDO LUIS SIEVERT - M.´.M.´.  Oriente de Curitiba, 23 de abril de 2023.

 

Huxley, Aldous. A filosofia perene: Uma interpretação dos grandes místicos do Oriente e do Ocidente. Biblioteca Azul. Edição do Kindle.

 

 

 

 

 

O RITO DO DESCALÇAMENTO, Albert G. Mackey.

Texto anotado por Genaldo Luis Sievert, membro da ARLS Aurora Maçônica 186, GOP.

O Rito de Descalçamento, ou despimento dos pés sobre um chão sagrado que se aproxima, é derivado da palavra latina discalceare, retirar o sapato de uma pessoa. Seu uso possui o prestígio da antiguidade e da universalidade em seu favor. Embora não prevalecendo de forma geral, seu significado simbólico foi bem compreendido na época de Moisés, nós aprendemos daquela passagem do Êxodo onde o anjo do Senhor, em um arbusto flamejante, jante, exclama ao patriarca: "Aproxime-se; tire seus sapatos dos pés, pois o lugar em que pisas é chão sagrado".' Clarke acredita que é por causa desse mandamento que as nações orientais adquiriram o costume me de realizar seu atos religiosos de adoração com os pés descalços. Mas é muito mais provável que a cerimônia fosse usada muito antes da circunstância do arbusto flamejante, e que os legisladores judeus imediatamente reconheceram-no como um símbolo de reverência. O Bispo Patrick compartilha dessa opinião, considerando que o costume foi derivado dos antigos patriarcas e transmitido por uma tradição geral às épocas sucessoras. Provas abundantes podem ser fornecidas pelos antigos autores da existência do costume entre todas as nações, tanto judaicas como as Gentis. Poucas entre elas, principalmente as reunidas pelo Dr. Mede, são curiosas e interessantes. A instrução de Pitágoras aos seus discípulos foi a seguinte: "Ofereça sacrifício e adoração descalço." Justin Martyr diz que aqueles que adoravam santuários e templos gentis eram orientados por seus sacerdotes a retirar os sapatos. Drúsio, em suas anotações no Livro de Josué, diz que entre a maioria das nações orientais era uma obrigação religiosa pisar o chão do templo com os pés descalços. Maimônides, o grande estudioso da lei judaica, afirma que "não era lícito a um homem vir à montanha da casa de Deus com sapatos nos pés, com seu cajado, em suas vestimentas de trabalho ou mesmo com poeira nos pés". Rabbi Salomão, comentando sobre o mandamento em Levítico XIX. 30: "Vós deveis reverência em meu santuário", faz a mesma observação com relação a esse costume. Sobre esse assunto, o Dr. Oliver observa: "O ato de ir com os pés descalços foi sempre considerado um sinal de humildade e reverência; e os sacerdotes, no templo de adoração, sempre conduziram os sacramentos com os pés descalçados, embora fossem frequentemente prejudiciais à saúde deles."Mede cita Zago Zaba, um bispo etíope, que foi embaixador de Davi, Rei da Abissínia, a João III, de Portugal, dizendo: "Não podemos entrar na igreja, exceto descalços. “Os maometanos, quando estavam para realizar suas devoções, sempre deixavam seus chinelos à porta do mosteiro. Os druidas tinham o mesmo costume, quando queriam celebrar seus antigos ritos; e acredita-se que os antigos peruanos sempre deixavam seus sapatos no pórtico quando entravam no templo magnífico consagrado à adoração do sol. Adam Clarke afirma que o costume de adoração descalça da divindade era tão comum entre as nações da antiguidade, que credita a esse fator como uma das 13 provas de que a raça humana toda foi derivada de uma única família. Pode-se extrair a seguinte teoria: os sapatos ou as sandálias eram usados em ocasiões ordinárias como uma proteção às sujeiras do chão. Para continuar a usá-los, então, em um local consagrado, seria uma insinuação tácita que o solo fosse igualmente poluído e capaz de produzir sujeira. Mas, como o verdadeiro caráter de um lugar sagrado e consagrado exclui a ideia de qualquer tipo de sujeira ou impureza, o reconhecimento de que este foi o espírito transmitido, simbolicamente, ao se despir os pés de todas aquelas proteções da poluição e impurezas que seriam necessárias em locais não consagrados. Então, nos tempos modernos, nós balançamos a cabeça para expressar o sentimento de estima e respeito. Antigamente, quando havia mais violência para ser temida do que agora, o elmo, ou capacete, possuía uma ampla proteção que podia resistir a qualquer golpe repentino de um inimigo inesperado. Mas não podemos temer violência de alguém que estimamos ou respeitamos; então, despojar a cabeça dessa proteção habitual, é dar uma prova de nossa confiança ilimitada na pessoa a quem o gesto é feito. O Rito de Descalçamento é, portanto, um símbolo de reverência. Isto significa, na linguagem do simbolismo, que o local que está para ser adentrado é de forma humilde e reverencial consagrado para algum propósito divino. Agora, como em tudo o que foi dito, o maçom inteligente irá imediatamente relacionar a sua aplicação ao terceiro grau. De todos os graus da Maçonaria, este é de longe o mais importante e sublime. A lição solene que ele ensina, a cena sagrada que representa e as cerimônias comoventes que nele são conduzidas, são todas calculadas para inspirar a mente com sentimentos de respeito e reverência. No mais sagrado de todos os templos sagrados, quando a arca da aliança foi depositada em seu local apropriado, e a Shekinah estava flutuando sobre ela, o Sumo Sacerdote sozinho, e em um único dia no ano todo, pôde, depois da mais cuidadosa purificação, entrar de pés descalços e pronunciar com veneração temerosa, o tetragramaton ou palavra omnífica. Na Loja do Mestre Maçom - o santo dos santos dos templos maçônicos, onde as verdades solenes da morte e imortalidade são transmitidas -, o aspirante, ao entrar, deve purificar seu coração de toda contaminação, e lembrar, com o devido senso de sua aplicação simbólica, daquelas palavras que certa vez irromperam nos ouvidos atônitos do velho patriarca: "Retire seus sapatos dos pés, pois o local em que está é solo sagrado."

Albert G. Mackey. O Simbolismo da Maçonaria – Volume 1 (Locais do Kindle 850-858). Edição do Kindle.

 

 

 

MEDIDA

GENALDO LUIS SIEVERT - M.´.M.´.

Oriente de Curitiba, 21 de maio de 2022

Qual é a medida?

É aquela das nossas necessidades individuais ou das nossas necessidades coletivas.

Os objetos que utilizamos para estimar ou definir uma medida são os mais diversos.

Na maçonaria utilizamos a régua de 24 polegadas como um ponto de partida para os nossos estudos, divagações e, adicionamos, após a medida, mais dois objetos, os quais promovem ação e reação.

A cada ação e reação caberá uma análise sobre o resultado obtido, seja no campo da linguagem verbal, escrita, simbólica, dos significados e seu resultado, a significância. Dada à medida, agimos, quando agimos reagimos ou sofremos a reação.

É a medida que elenca a reflexão, é assim que os pensadores reagem e constroem estradas, as quais pavimentam com suas teorias e resultados – os quais nem sempre – refletem uma verdade incontestável.

A pausa pode ser resultado de uma medida; pode refletir o cansaço resultante de um período exaustivo de trabalho. Tudo podemos medir e consequentemente obter a partir daí um resultado, de forma e conteúdo, por exemplo.

Qualquer que seja o resultado final, sem uma medida inicial, buscaremos medir como chegamos ao resultado, mesmo que involuntariamente.

A medida pode determinar o ponto de partida, como uma caminhada, ou um trajeto a ser percorrido, ponto A até ponto B.

A medida nos Graus maçônicos também é assim; iniciática, caminhada, resultado.

Ação – medir; reação e resultado. Empreender para praticar.

Medir pode nos auxiliar a reconhecer as mais simples e as mais complexas necessidades, seja na vida maçônica ou na profana. Às vezes aplicamos os aprendizados de uma na outra, instintivamente, de acordo com nossas necessidades e percepções.

Na medida certa, coisas certas, na medida errada – ações corretivas.

Aceitar as medidas tomadas pode ser uma questão de responsabilidade, ignorá-las ou transgredi-las é algo “fora da medida”.

Assim como na maçonaria na sociedade civil estabelecida temos medidas para todas as coisas. Medidas transformadas em regras para melhor convivência.

Mas qual a minha medida? É aquela em que a minha medida alcança a medida do outro; a partir daqui utilizamos as medidas de convivência social.

 

OS PEREGRINOS MAÇONS

GENALDO LUIS SIEVERT - M.´.M.´.

Oriente de Curitiba, 21 de maio de 2022

 

O peregrino maçom começa sua jornada quando aceita ser iniciado em uma Loja Simbólica Maçônica; o faz por ter sido escolhido por um Maçom Regular e assim como em qualquer outra iniciação recebe os princípios fundamentais que nortearão a sua caminhada.

Parece haver uma aura de simplicidade e pureza que absorvida pelo novo peregrino irá, quando aceita por ele, ser a base que o motivará a se manter firme, frequente e estudioso dos princípios que amparam as colunas na maçonaria.

Por que o termo “peregrino” foi aplicado aqui? Porque foi a forma mais simples e didática e, que considero apropriada para identificar a viagem no espaço tempo que o Maçom fará.

Esta estrada pavimentada por teorias e amparada por inúmeros personagens teve seu ápice quando do evento das Cruzadas, cujo patrocínio foi realizado pela cristandade medieval com amparo à ideia de libertar os cristãos mantidos pelos mulçumanos, além de, obter vantagens ao recuperar relíquias e territórios sagrados.

Mas adventos anteriores sustentam os eventos dos cruzados, e, a maçonaria explora e narra em lenda a saga do povo judeu que, liderados por Moisés retornaram a terra prometida. Lança na jornada teórica toda a evolução do sucesso e dos reveses sofridos. Explora o conceito da construção do Templo de Salomão, que, da teoria aporta no campo do aperfeiçoamento espiritual e, tem como objetivo o aperfeiçoamento do homem, já adulto que é apresentado em assembleia maçônica. Esta assembleia tem por missão e dever orientar o peregrino que nos primeiros passos é tratado como Aprendiz.

Este é o início daquilo que denomino “peregrinação”.

A longa caminhada terá como objetivo principal o aperfeiçoamento do homem, peregrino, agora maçom, que provido de novos saberes, lapidará a sua pedra bruta interior, o seu templo, a sua verdadeira morada, o seu casulo, cuja libertação será a plena aceitação do Grande Arquiteto do Universo.

Esse encontro acontecerá quando o peregrino entender os conceitos da virtude cristã fundamental: "Ama o próximo como a ti mesmo”. Fé, caridade e esperança; sendo a caridade a maior de todas. “A caridade tudo suporta, em tudo tem fé, tudo sustenta [...] Agora existem a fé, a esperança e a caridade, essas três coisas; mas a caridade é a maior de todas” (Cor., I, 13)[1].

Mas, as peregrinações também são entendidas em sua essência, como jornadas a lugares considerados santos, onde, os devotos reafirmam a sua fé e assumem inúmeros compromissos nos quais buscam a sustentação para as atribulações da vida. Estas peregrinações ocorrem desde a antiguidade e, são realizadas individualmente ou em grandes grupos. Tais eventos, na modernidade, continuam a motivar os indivíduos a buscar apoio espiritual, seja para compreender a complexidade da vida, seja como um conjunto de motivações para poder alcançar seus objetivos, seja não por último, como uma forma de sucesso, mas, principalmente, para entender-se como um ser vivo, no micro e no macrocosmo, pois, a grandeza da criação nos encanta, absorve, intriga e nos desafia na busca por um dia a dia melhor, saudável e, principalmente voltado para superar os desafios imposto que é, pelo desenvolvimento. Este mesmo é o que nos motiva e é o que nos sufoca e nos remete à reflexão; esta mesma reflexão é que gera os questionamentos e dúvidas, as mais diversas e complexas e que nos colocam, muitas vezes, à beira do abismo da dúvida e, remetem à reflexão.

O desafio que temos como peregrino maçom é, exatamente, o de buscar, eis o desafio, o bem-estar espiritual, aquele cujo conforto, só alcançará pela fé, na vida e no aperfeiçoamento individual. O desafio é o entendimento, você por você, por nós, nos por você, todos em busca do mesmo destino, o aperfeiçoamento espiritual, na individualidade e na comunidade universal, pois, a universalidade é para os maçons a demonstração de que somos uma única sociedade.

Para tanto estimulamos e somos estimulados para aperfeiçoar o nosso Templo interior.

Mas os homens desde a antiguidade entenderam que o “Senhor”, aquele que nos abriga em infinita bondade, é merecedor de um templo material, um local onde nos reunimos, ricamente decorado, para orarmos e refletirmos sobre as nossas dificuldades e desejos.

Eis que o primeiro templo foi dado como tarefa a Davi, tarefa esta concluída por Salomão. Esse mesmo templo, cuja origem era um tabernáculo, montado e desmontado à medida que a peregrinação avançava. Quando materializado, se tornou objeto de cobiça e destruição. A ostentação superava a fé, a esperança e caridade.

Apresento abaixo em uma tabela a sequência cronológica dos templos, os quais foram construídos, destruídos, reconstruídos, numa insana busca por algo que está apenas dentro ti.

Templos da Bíblia[2]

Identificação

Data

Descrição

Referências

O tabernáculo (templo móvel)

Por volta de 1444 a.C.

Plano detalhado recebido do Senhor por Moisés. Construído por artesãos divinamente designados. Profanado por Nadabe e Abiú.

Ex 25 a 30;35:30 a 40:38; Lv 10:1-7.

O Templo de Salomão

966-586 a.C.

Planejado por Davi. Construído por Salomão. Destruído por Nabucodonosor.

2Sm 7:1-29; 1Rs 8:1-66.

O templo de Zorobabel

516-169 a.C.

Dado por meio de visão à Zorobabel. Construído por Zorobabel e os anciãos dos judeus. Profanado por Antíoco Epífanes.

Ed 3:1-8; 4:1-14; 6:1-22.

O templo de Herodes

19 a.C. -70 d.C.

O templo de Zorobabel restaurado por Herodes, o Grande. Destruído pelos Romanos.

Mc 13:2,4-23; Lc 1:11-20; 2:22-38; 2:42-51; 4:21-24; At 21:27-33.

O templo atual

Era atual

Encontrado no coração do cristão. O corpo do cristão é o único templo do Senhor, até que o Messias volte.

1Co 6:19-20; 2Co 6:16-18.

O templo de Apocalipse 11

Período de tribulação

A ser construído pelo anticristo durante a tribulação. A ser profanado e destruído.

Dn 9:2; Mt 24:15; 2Ts 2:4; Ap 17:1.

O templo de Ezequiel (milênio)

Milênio

Dado por meio de visão ao profeta Ezequiel. A ser construído pelo Messias durante o seu reinado milenar.

Ez 40:1 a 42:20; Zc 6:12-13.

O templo eterno da presença de Deus

O reino eterno

O maior de todos (“o Senhor Deus Todo-poderoso e o Cordeiro são o templo”). Um templo espiritual.

Ap 21:22; 22:1-21.

Organizado e adaptado pelo autor.

 

O peregrino maçom caminha nesse sentido, a busca pelo reino eterno, o maior de todos, o templo espiritual, onde a caridade, a fé e a esperança entrelaçadas, são o alimento necessário para a jornada.

É na mente e corpo do peregrino maçom que se instalará a espiritualidade. Aceita esta, a sua peregrinação, mesmo que vitimada por contratempos, seguirá com tranquilidade; esta tranquilidade é o apoio incondicional de todos os maçons que o cercam.

Normalmente nos admiramos com a beleza de alguns templos maçônicos, sua riqueza em detalhes primorosos. Justificamos nosso anseio por um templo ricamente decorado, cuja importância atrelamos ao simbolismo de tudo que vivemos como maçons, mas será que isto é fundamental? Onde realmente está a essência da maçonaria? No intelecto e na espiritualidade de cada um de nós peregrinos. Peregrinos cuja missão é o aperfeiçoamento pelo estudo e aplicação dos preceitos morais e éticos, cuja origem é a família e, que com ousadia é tomada pela maçonaria, no sentido de aperfeiçoar o homem, que pronto, extraímos da sociedade. Trinta e três são os degraus de uma jornada mística, cujo destino, é a irmandade.

 

 

BIBLIOGRAFIA E INDICAÇÕES PARA LEITURA

 

MacArthur, John. Manual bíblico MacArthur. Thomas Nelson Brasil. Edição do Kindle.

Azevedo, Antonio Carlos do Amaral; Geiger, Paulo. Dicionário histórico de religiões. Lexikon. Edição do Kindle. Posição 7504.

Abbagnano, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Editora WMF Martins fontes, 2012.

Le Goff, Jacques. Em busca do tempo sagrado. 1. ed. - Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.

 



[1] In Abbaganano, 2012, p. 135

[2] MacArthur, John. Manual bíblico MacArthur (posição, 3229). Thomas Nelson Brasil. Edição do Kindle.

 

RITUAL, conceitos, características e códigos de interação a partir de estudos antropológicos.

            GENALDO LUIS SIEVERT - M.´.M.´.  Oriente de Curitiba, 21 de agosto de 2022.

A.´.R.´.L.´.S.´. AURORA MAÇÔNICA 186 – GRANDE ORIENTE DO PARANÁ

 

            O objetivo deste estudo é buscar e melhorar o entendimento das características do Ritual na maçonaria. Também pretendo demonstrar que o ritual na maçonaria se enquadra em apontamentos anotados na obra de Jack David Eller, Introdução à antropologia da religião, no qual apresenta e discute diversas características do ritual e a ritualização dos diversos eventos analisados ao longo do tempo em que a antropologia se situou como disciplina acadêmica.

            Para tanto “ritual” é apresentado como não sendo necessariamente um fenômeno religioso; eventos sociais os mais diversos apresentam características semelhantes: uma formatura universitária é um exemplo clássico “com pouco ou nenhum conteúdo ou significado religioso”.

Segundo Antony Wallace, apud Eller (2018) [...] “embora o ritual seja o fenômeno primário da religião, o processo ritual como tal não exige (grifo meu) nenhuma crença sobrenatural” (1996:233). Nesse sentido podemos afirmar que na Maçonaria essa característica não é observável, pois, a crença em Deus ou Grande Arquiteto do Universo como denominamos é condição primária e irrevogável para o indivíduo.

Para Victor Turner um ritual “é segmentado em “fases” ou “etapas” e em subunidades como “episódios”, “ações” e “gestos”. Ressalta Eller que “cada uma destas unidades e subunidades corresponde um arranjo específico de símbolos” os quais encontramos em abundância na ritualística maçônica. Assim o ritual por característica própria apresenta gêneros de ação, linguagem apropriada, contemplação, itens materiais e apoio em eventos diversos que marcaram a evolução humana. Eis que surge, então, a função, a origem e as variedades ritualísticas, as quais podem ser identificadas nos mais diversos ritos práticos.

Eller, 2018, nos apresenta algumas definições, as quais selecionou e, irei apresentar, para buscar melhorar o entendimento. Cabe esclarecer que Eller apresenta-os como “parte crucial da religião” e claramente como “da cultura em geral” das quais os diversos organizadores dos mais distintos ritos maçônicos se apropriaram no sentido de estabelecer as bases de conduta/reflexão/ação em cada um dos rituais ou graus estabelecidos.

Victor Turner: comportamento formal prescrito para ocasiões não destinadas à rotina tecnológica, que tem relação com a crença ou poderes místicos. O símbolo é a menor unidade do ritual (1967:19).

Stanley Tambiah: um sistema culturalmente construído de comunicação simbólica. É constituído por sequências padronizadas e ordenadas de palavras e atos, muitas vezes expressos através de múltiplos meios de comunicação, cujo conteúdo e arranjo se caracterizam em grau variado por formalidade (convencionalidade), estereotipia (rigidez), condensação (fusão) e redundância (repetição), (1979:119).

Antony Wallace: comunicação sem informação: ou seja, cada ritual é uma sequência particular de sinais que, uma vez anunciada, não permite nenhuma incerteza, nenhuma escolha, e, portanto, no sentido estatístico da teoria da informação, não transmite nenhuma informação de quem envia para quem recebe. É, tecnicamente, um sistema de ordem perfeita e qualquer desvio desta ordem é um erro (1966:233).

Thomas Barfield: [...] em seu sentido mais amplo, o ritual pode referir-se não a algum tipo particular de evento, mas ao aspecto expressivo de toda atividade humana. Na medida em que transmite mensagens a respeito do status social e cultural dos indivíduos, qualquer ação humana tem uma dimensão ritual. Neste sentido, até atos tão mundanos como cultivar campos e processar alimentos compartilha um aspecto ritual como o sacrifício e a missa (1997:410).

Edmund Leach: comportamento que faz parte de um sistema de sinalização e que serve para comunicar informação, não por causa de algum elo mecânico entre meios e fins, mas por causa de um código de comunicação (1966:403).

Observa-se, assim, que por mais distintos que sejam os conceitos apresentados, podemos identificar nos mesmos diversos elementos que remetem às ações e/ou práticas ritualísticas, as quais utilizamos quando da realização do nosso ritual nos seus graus simbólicos ou naqueles que conhecemos como filosóficos.

E, além dos conceitos alguns códigos de interação (CI) os quais não são exclusivos das religiões são identificados como elementos fixos, padronizados e comunicativos, a partir dos estudos, os quais remetem os iniciados à compreensão das ações e dos símbolos utilizados.

Segundo Eller, 2018, “[...] o comportamento cerimonial e ritual, é particularmente distinto em sua seriedade, precisão, estereotipia e detalhes. Parte desta elaboração garante que o ritual seja executado corretamente, mas outra parte é autor referencial, ou seja, uma maneira de demarcar, enfatizar, salientar o fato do comportamento de código”.

O código de interação é a ação em si executada com finalidade específica, é “algo especial que exige uma resposta” igualmente formal e específica, Eller, 2018.

Assim, o comportamento ritual deve ser comunicativo, compreensivo. O que a ritualização em geral faz “é não só estabelecer comunicação entre os participantes, mas também comunicação a respeito deles. [...] se a ação é feita sempre da mesma maneira, não há nenhuma confusão acerca de sua intenção”. (Eller, 2018).

No mesmo sentido, Eller (2018:265), enfatiza que: “[...] o comportamento ritual não é um tudo-ou-nada, mas se alinha num espectro, que vai do individual/compulsivo ao casual, à etiqueta/diplomacia, ao religioso normal, ao litúrgico”.

Os CI constituem o primeiro nível do comportamento, a partir do simples aperto de mão os humanos apresentam diversos e complexos rituais os quais demonstram a evolução, estabelecem critérios organizacionais paras as mais diversas situações desde a mais simples às mais elaboradas, as quais são novamente identificadas nos mais variados graus do ensinamento maçônico.

Na maçonaria encontramos devido ao seu aspecto ritualístico a liturgia a qual estabelece a formalidade de cada ato ou comunicação que deve ser executado corretamente. A liturgia nos permite seguir um padrão, diversas vezes a mesma coisa; já o ritual tem por função o preparo de um ou mais indivíduos “executar uma ação com a máxima eficiência” Anthony Wallace apud Eller (2018).

Assim, acredito lhes ter apresentado de forma sucinta esclarecimento que irão enriquecer nosso entendimento sobre ações básicas pertinentes à prática e esmero no desenvolvimento da ritualística maçônica seja nos seus graus simbólicos seja nos graus entendidos como filosóficos.


FONTE DE INSPIRAÇÃO

Eller, Jack David. Introdução à antropologia da religião / Jack David Eller; tradução de Gentil Avelino Titton. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.Editora Vozes. Edição do Kindle.

 

LEITURA COMPLEMENTAR

Algumas pessoas podem dizer que o antigo ritual da Ordem é imperfeito e que exige emendas. Outros podem pensar que as cerimônias são simples demais, e desejam aumentá-las; outro, que elas são muito complicadas e desejam simplificá-las, e ainda alguém pode estar descontente com a linguagem antiquada, outro, com o caráter das tradições, ou com outra coisa. Mas a regra é imperativa e absoluta, que nenhuma alteração pode ou deve ser feita para agradar o gosto individual.

Albert G. Mackey. Os Princípios das Leis Maçônicas – Volume I (Locais do Kindle 654-657). Edição do Kindle.

 QUANTO TEMPO O TEMPO TEM

Esta indicação temática ocorre a partir de obras já lidas de Marcelo Gleiser e Domenico de Mais, como linha mestra e, da signo-leitura do filme com o mesmo título.  Além dos autores citados no transcorrer do filme personagens conhecidos como Nélida Piñon, escritora brasileira vencedora de inúmeros prêmios literários, bem como: André Comte Sponville – escritor e filósofo, Erick Felinto – professor especialista em cibercultura, Alexandre Kalache – médico geriatra, Luiz Alberto Oliveira – físico e cosmólogo e Raymond Kurzweil – cientista futurista entre outros, que discutem a temática intrigante e com a qual nos deparamos nas entrelinhas durante a nossa caminhada maçônica. 

Dos pensadores citados indico obras, as quais já li e consulto durante meus estudos e reflexões, das quais apresentarei alguns excertos para clarear estudos futuros (ao final link do filme disponível em: Netflix):

As águas da vida me levaram e esqueci do menino e do seu peixe mágico. Encantei-me com o Universo e construí uma carreira como físico teórico, interessado por questões que, até recentemente, não eram consideradas científicas. Como o Universo surgiu? De onde veio a matéria que compõe as estrelas, os planetas e as pessoas? Como que átomos inanimados viraram criaturas vivas, algumas delas capazes de refletir sobre sua própria existência? E se a vida existe aqui, será que existe em outros lugares? Será que a imensidão cósmica esconde outras criaturas inteligentes? Gleiser, Marcelo. A simples beleza do inesperado.

De acordo com os escritos de Filolau de Crotona, um famoso discípulo de Pitágoras que viveu por volta de 450 a.C., o centro do universo não era a Terra mas o “fogo central”, a Cidadela de Zeus. A justificativa de Filolau para tirar a Terra do centro da Criação quase 2 mil anos antes de Copérnico era tanto prática quanto teológica: apenas Deus podia ocupar o centro de tudo; fora isso, parecia claro que o movimento do Sol nos céus era bem distinto daquele dos planetas. Como escreveu Aristóteles em sua obra Sobre os céus, “A maioria das pessoas afirma que a Terra ocupa o centro do universo [...] mas os filósofos italianos conhecidos como pitagóricos acreditam em um outro arranjo. Para eles, no centro está o fogo, e a Terra é apenas uma das estrelas, cujos dias e noites são consequência de seu movimento circular em torno do centro iluminado”. Gleiser, Marcelo. A ilha do conhecimento: Os limites da ciência e a busca por sentido.

Quando a furiosa tempestade ameaça naufragar o Estado, nada mais nobre nos resta fazer senão ancorar nossos estudos no chão firme da eternidade. Johannes Kepler, carta a Jakob Bartsch,6 de novembro de 1629. Obras sobre as discussões cientificas de Kepler. Gleiser, Marcelo. A harmonia do mundo.

De fato, um erro bastante comum é usarmos valores ou símbolos da nossa cultura na interpretação de mitos de outras culturas. Outro erro grave é interpretar um mito cientificamente, ou tentar prover mitos com um conteúdo científico. Os mitos têm que ser entendidos dentro do contexto cultural do qual fazem parte. Por exemplo, o mito assírio “Uma outra versão da criação do homem” (c. 800 a.C.) começa com cinco deuses, Anu, Enlil, Shamash, Ea e Anunnaki, discutindo a criação do mundo enquanto estão sentados no céu. Se não sabemos qual o significado dessas divindades para o povo assírio, a imagem de cinco deuses conversando no céu pode nos parecer bastante simplista. Porém, uma vez entendido o que cada deus representa, o mito passa a fazer muito mais sentido. Gleiser, Marcelo. A dança do universo. 

Eu me limito a sustentar, com base em dados estatísticos, que nós, que partimos de uma sociedade onde uma grande parte da vida das pessoas adultas era dedicada ao trabalho, estamos caminhando em direção a uma sociedade na qual grande parte do tempo será, e em parte já é, dedicada a outra coisa. Esta é uma observação empírica, como a que foi feita pelo sociólogo americano Daniel Bell quando, em 1956, nos Estados Unidos, ao constatar que o número de “colarinhos brancos” ultrapassava o de operários, advertiu: “Que poder operário que nada! A sociedade caminha em direção à predominância do setor de serviços.” Aquela ultrapassagem foi registrada por Bell. Ele não a adivinhou ou profetizou. Da mesma maneira, eu me limito a registrar que estamos caminhando em direção a uma sociedade fundada não mais no trabalho, mas no tempo vago. De Masi, Domenico. O ócio criativo. 

As criações coletivas, seja, elas descobertas ou invenções, nascem sobretudo de um grande medo ou de uma grande esperança, difundidos no inconsciente popular. De Mais, Domenico. Criatividade e grupos criativos. 

As memórias me invadem, não têm sequência, não têm ordem, não têm juízo. A memória é alvissareira para os felizes. Para mim é ingrata. Não vale guardá-la entre os meus pertences. Piñon, Nélida. Um dia chegarei a Sagres.

Já assistiu a "Quanto Tempo o Tempo Tem" na Netflix?

https://www.netflix.com/br/title/80187187?s=a&trkid=13747225&t=more&vlang=pt&clip=81615720 

GENALDO LUIS SIEVERT - M.´.M.´.  Oriente de Curitiba, 17 de dezembro de 2022.

A.´.R.´.L.´.S.´. AURORA MAÇÔNICA 186 – GRANDE ORIENTE DO PARANÁ


 

Ponte, uma reflexão


Elemento de ligação que permite passar de um ponto a outro; ligar-se a outrem por pensamento; enlaçar imagem a lugares; projetar-se em pensamento ou imaginação a lugares e tempos; passagem da terra ao céu; ligar-se a partir do estado humano ao supra-humano; a ponte é simbolismo presente em muitas sociedades iniciáticas. As pontes também podem representar facilidades e dificuldades na medida em que são construídas em maior ou menor largura. Podem ter caráter libertador, estratégico para os conquistadores na escala da utilização ou da destruição, tornando-se assim elemento facilitador ou causador de dificuldades. A ponte simboliza a ligação, elos entrelaçados e contínuos, os quais fortalecem a passagem. Unem povos, vilas, cidades e países, mas, se destruídas os isolam, restando somente a ponte imaginária. Os grandes pensadores teceram pontes as quais até hoje nos permitem sedimentar e traçar textos, discursos, criar imagens e estabelecer noções do passado. Passado, presente e futuro formam na ponte arco-íris o real e o imaginário. Ponte alude a pontífice, cujo significado remete a construtor de pontes. Construir a própria ponte, primeiro, para poder construir a ponte coletiva depois. A ponte verdadeira é o “eu”; meu universo com o universo em que habito. A espiritualização é o estado alcançado como ponte. A ponte poderá nos conduzir ao céu e permitir passar sobre o inferno. A ponte nos permite superar a cada dia as nossas dificuldades; interligam os anos da vida; as amizades; encontros. Luz divina é a ponte que nos une. Somos a ponte que desejamos ser? GENALDO LUIS SIEVERT - M.´. M.´.  Grande Inspetor Geral do Supremo Conselho do Grau 33 do Paraná. Oriente de Curitiba, 05 de junho de 2022.