Da
ideia do Panóptico à era da tecnologia
A dominância como elemento de utilização do poder para
controlar é claramente observável a partir do que fazemos e/ou aceitamos fazer
por instinto ou estímulos diante do que utilizamos no presente e, a comunicação
instantânea e intencional, para o bem ou para o mal, assume o comando de muitas
ações ou intenções/interações no dia a dia.
Assim, o termo Panóptico, remete à ideia de uma célula
única onde centenas ou milhares de indivíduos podem ser controlados por um
vigia ou controlador do espaço/tempo. Este termo ou ideia foi idealizado por
Jeremy Bentham “como uma arquimetáfora do poder” (Bauman, 2001), e utilizado
por Foucault (apud Bauman) para destacar a base do poder que se instalou com o
advento da grande rede mundial. Estabelecida, já a partir da década de setenta
do século XX e difundida e alçada à condição de poder de controle a partir de
1980. Desde então os projetos de dominação eletrônica foram estabelecidas sob o
“manto” da evolução e facilidades da vida moderna, porém, sob as camadas
inferiores, aquelas das entrelinhas, permanece a metáfora da caverna de Platão.
A luta é não aceitar o que estabelecem para nós, mas sim, analisar, pontuar,
detalhar, cada ideia ou parâmetro estabelecido, contestar quando necessário e
se situar como elemento de equilíbrio.
Parece que nos sentimos confortáveis para elogiar ou
ofender quando da utilização de mídias. Se prestarmos atenção o fato pode ser
facilmente identificado e, não é necessário o manto do anonimato, exceto nos
casos da indústria das fake news.
Não há mais necessidade de contato pessoal para que
ordens sejam cumpridas; basta uma mensagem. Ordem executada, clique em
“executado”. Resposta: “siga para a tarefa seguinte”.
Não há mais tempo limite para encerrar as tarefas; ao período
de descanso “dê uma olhada nos aplicativos e e-mails”.
No tempo que vivenciamos tudo é controlado
eletronicamente, até mesmo um conflito bélico apresenta tal característica no
sentido de evitar o confronto entre indivíduos.
Na escala evolutiva da utilização de equipamentos de
comunicação móvel crescem em uníssono os malefícios dos oportunistas, a
dicotomia permanece.
O maior ganho em escala é segundo Bauman (2001) “o do
poder”: “A elite global contemporânea é formada no padrão do velho estilo
dos “senhores ausentes”. Ela pode dominar sem se ocupar com a administração,
gerenciamento, bem-estar, ou, ainda, com a missão de “levar a luz”, “reformar
os modos”, elevar moralmente, “civilizar” e com cruzadas culturais. O
engajamento ativo na vida das populações subordinadas não é mais necessário (ao
contrário, é fortemente evitado como desnecessariamente custoso e ineficaz) —
e, portanto, o “maior” não só não é mais o “melhor”, mas carece de significado
racional. Agora é o menor, mais leve e mais portátil que significa melhoria e
“progresso”. Mover-se leve, e não mais aferrar-se a coisas vistas como
atraentes por sua confiabilidade e solidez — isto é, por seu peso,
substancialidade e capacidade de resistência — é hoje recurso de poder”.
Parece-nos que o longo prazo deixa de existir e se
estabelece a cultura do “aqui e agora” do “é do meu interesse e do meu grupo”,
os outros que lutem e se estabeleçam. A era das bravatas, da coragem midiática
parece ter se estabelecido, “valentões midiáticos” surgem às centenas todos os
dias; liberdade de expressão é um “direito meu” os outros que...
Por natureza a rede informacional conhecida como internet
não é estética, não é bela ou feia, apenas códigos sustentam o que os usuários
estabelecem como suas manifestações. Fazer para o bem ou para o mal é uma
escolha individual ou coletiva.
O impacto causado pelo advento da Internet aponta para
uma grande concentração do controle o que pode gerar uma ditatura digital,
conforme pontua Harari: “Algoritmos de Big Data poderiam criar ditaduras
digitais nas quais todo o poder se concentra nas mãos de uma minúscula elite
enquanto a maior parte das pessoas sofre não em virtude de exploração, mas de
algo muito pior: irrelevância”. (posição 108, 2021).
Segundo previsões até 2025 8 bilhões de indivíduos
estarão conectados utilizando apenas um celular, conforme afirmação de Schmidt
e Cohen, 2013.
Assim como Bauman e Harari, Schmidt e Cohen (2013) apontam
em suas conclusões: “Em função de fatores como riqueza, acesso ou
localização, a pequena minoria no topo ficará, quase sempre, protegida das
consequências menos agradáveis da tecnologia. A classe média do mundo
impulsionará grande parte da mudança, pois nela estarão os inventores, os
líderes nas comunidades de imigrantes e os proprietários de pequenas e médias
empresas. Esses são os primeiros cinco bilhões de pessoas já conectados. [...] Esse
grupo conduzirá as revoluções e questionará os estados policiais; será também o
segmento controlado pelos governos, assediado por multidões enfurecidas on-line
e desorientado por guerras de marketing. Muitos dos desafios de seu mundo
perdurarão mesmo com a disseminação da tecnologia”.
Caberá, então, a cada um de nós de forma consciente
analisar, filtrar e contestar quando oportuno e necessário com argumentos
sólidos e compreensivos.
Genaldo
Luis Sievert (Sievert, G. L.)
M.´.M.´. A.´.R.´.L.´.S.´. Aurora Maçônica 186
- GOP
Referências:
Bauman, Zygmunt (2001). Modernidade líquida. Zahar.
Edição do Kindle.
Harari, Yuval Noah. 21
lições para o século 21. Companhia das Letras. Edição do Kindle.
Schmidt,
Eric; Cohen, Jared. A nova era digital. Intrínseca. 2013. Edição do
Kindle.